— Matar alguém? Não se preocupe, não estamos pedindo que se torne soldado ou
agente especial. Temos muitos homens de preto treinados para esse tipo de trabalho.
— Como você.
— Isso foi há muito tempo. Hoje em dia, eu declaro guerra aos inimigos do
conforto de uma mesa. Sou um herói das salas de reunião.
— Não é o que escreveram sobre você no Haaretz.
— Até o respeitável Haaretz erra de vez em quando.
— Os espiões também erram.
— Você tem alguma coisa contra o negócio da espionagem?
— Só quando os espiões fazem coisas repreensíveis.
— Por exemplo?
— Torturar — respondeu ela.
— Não torturamos ninguém.
— E os americanos?
— Vamos deixar os americanos de fora disso por enquanto. Mas estou me
perguntando — continuou ele — se você teria alguma objeção moral ou filosófica contra
participar de uma operação que resultaria na morte de alguém.
— Pode ser um choque para você, senhor Allon, mas nunca me fiz essa pergunta
antes.
— Você é médica, Natalie. Foi treinada para salvar vidas. Fez um juramento: não
causar dano. Ontem mesmo, por exemplo, tratou um jovem responsável pela morte de
duas pessoas. Com certeza, deve ter sido difícil.
— Nem um pouco.
— Por que não?
— Porque é meu trabalho.
— Ainda não respondeu à minha pergunta.
— A resposta é não — disse ela. — Eu não teria nenhuma objeção filosófica ou
moral contra participar de uma operação que resultasse na morte do homem responsável
pelos atentados em Paris e Amsterdã, desde que nenhuma vida inocente se perdesse no
processo.
— Me parece, Natalie, que você está se referindo ao programa de drones americano.
— Israel também usa ataques aéreos.
— E alguns de nós discordamos dessa estratégia. Preferimos operações especiais a
poder aéreo, sempre que possível. Mas nossos políticos se apaixonaram pela ideia da
chamada “guerra limpa”. Os drones tornam isso possível.
— Não para quem está sendo atacado.
— É verdade. Vidas inocentes demais foram perdidas. Mas a melhor maneira de
garantir que isso não aconteça é boa inteligência — ele pausou. E então completou: — E
é aí que você entra.
— O que você está me pedindo para fazer?
Ele sorriu. Shwaya, shwaya...
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1