N
NAHALAL, ISRAEL
atalie a seguiu pelo jardim coberto e através de uma porta francesa que dava para a sala
de estar do bangalô. Tinha poucos móveis, parecendo mais escritório que casa, e em
suas paredes pintadas de branco estavam penduradas várias fotos ampliadas em preto e
branco mostrando o sofrimento palestino — a longa e poeirenta caminhada ao exílio, os
campos miseráveis, os rostos exaustos dos idosos, que sonhavam com o paraíso
perdido.
— É aqui que você teria sido treinada — explicou Dina. — É aqui que teríamos lhe
transformado em uma deles.
— Onde estão minhas coisas?
— No andar de cima — então, Dina completou: — No seu quarto.
Mais fotos ladeavam as escadas e, no criado-mudo de um quartinho bem-arrumado,
havia um volume de poemas de Mahmoud Darwish, poeta semioficial do nacionalismo
palestino. A mala de Natalie estava ao pé da cama, vazia.
— Tomamos a liberdade de desfazer a mala para você — explicou Dina.
— Pelo jeito, ninguém nunca diz não a ele.
— Você foi a primeira.
Natalie a observou mancar pelo quarto e abrir a primeira gaveta de uma cômoda de
vime.
Sabe, Natalie, a Dina também está de luto. E ela leva o trabalho muito a sério.
— O que aconteceu? — perguntou Natalie, suavemente.
— Você disse não, e agora está indo embora.
— Com a sua perna.
— Não é importante.
— Para mim, é.
— Só porque você é médica? — Dina tirou um punhado de roupas da gaveta e
colocou na mala. — Sou funcionária do serviço secreto de inteligência do Estado de
Israel. Você não tem direito de saber o que aconteceu com a minha perna. Não tem
permissão de saber. É confidencial. Eu sou confidencial.
Natalie sentou-se na beira da cama enquanto Dina tirava o resto das roupas da
gaveta.
— Foi um atentado — disse Dina, enfim. — Está feliz agora?
— Onde?