A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1
–R

N STREET, GEORGETOWN

aqqa? Você ficou louco, cacete?
Não era comum Adrian Carter falar palavrões, especialmente não do tipo fálico. Ele
era filho de um ministro episcopal de New England e achava que palavras de baixo calão
eram um refúgio dos menos inteligentes. Quem as usava em sua presença, inclusive
políticos poderosos, raramente era convidado para voltar a seu escritório no sétimo
andar da sede da CIA em Langley. Carter era chefe da Diretoria de Operações da
Agência, o mais antigo chefe da história do serviço. Por um curto período após o 11 de
Setembro, o reino de Carter fora conhecido como Serviço Clandestino Nacional. Mas
seu novo diretor, o sexto em apenas dez anos, decidira chamá-lo por seu nome antigo.
Era isso o que a Agência fazia depois de cometer erros: mudava placas de identificação e
tirava escrivaninhas do lugar. As digitais de Carter estavam em muitos dos maiores
fracassos da Agência, do fracasso em prever o colapso da União Soviética à equivocada
Estimativa Nacional de Inteligência em relação às armas de destruição em massa
iraquianas, mas, de alguma forma, ele continuava. Era o homem que sabia demais. Era
intocável.
Como Paul Rousseau, Carter não gostava do papel de espião. Com seus cabelos
bagunçados, bigode datado e voz suave, ele podia ser confundido com um terapeuta que
passava os dias ouvindo confissões de traições e carências. Sua aparência nada
ameaçadora, bem como sua facilidade com idiomas, tinha sido uma vantagem valiosa em
campo, onde ele servira com distinção em vários postos e na sede. Tanto adversários
quanto aliados tendiam a subestimá-lo, uma gafe que Gabriel nunca cometeu. Ele mesmo
trabalhara de perto com Carter em várias operações notórias — incluindo aquela na qual
Hannah Weinberg tivera um pequeno papel —, mas o acordo nuclear dos Estados
Unidos com o Irã alterara a dinâmica do relacionamento. Ainda que outrora Langley e o
Escritório tenham trabalhado lado a lado para sabotar as ambições nucleares do Irã, os
Estados Unidos, sob os termos do acordo, agora juravam proteger o que restara da
infraestrutura atômica de Teerã. Gabriel planejava espionar intensamente o Irã para
garantir que o país não estivesse violando esses termos. E se visse qualquer evidência de
que os mulás ainda estavam enriquecendo urânio ou construindo sistemas de
lançamento, aconselharia seu primeiro-ministro a deflagrar um ataque militar. E sob
nenhuma circunstância consultaria primeiro seu amigo e aliado Adrian Carter.
— Ele é um dos deles — perguntava Carter agora — ou um dos seus?
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