A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

E


N STREET, GEORGETOWN

ra o auge do verão em Washington, aquela época inóspita do ano em que a maioria
dos residentes prósperos de Georgetown fogem de sua pequena vila em direção às suas
segundas casas em Maine ou Martha’s Vineyard ou nas montanhas do Sun Valley e de
Aspen. Com razão, pensou Gabriel; o calor era equatorial. Como sempre, ele se
perguntou por que os fundadores americanos tinham propositalmente colocado sua
capital no meio de um pântano de malária. Jerusalém escolhera os judeus. Os americanos
só podiam culpar a si mesmos.
— Por que estamos caminhando, Adrian? Por que não podemos sentar ao ar-
condicionado e beber uísque com hortelã que nem todo mundo?
— Preciso esticar minhas pernas. Além disso, imaginei que você estivesse
acostumado com o calor. Não é nada em comparação com o vale de Jezreel.
— Tem um motivo para eu amar Cornwall: não é quente.
— Já, já vai ser. Langley estima que, por causa do aquecimento global, o sul da
Inglaterra um dia vai estar entre os maiores produtores de vinho premium do mundo.
— Se Langley acredita nisso — disse Gabriel —, tenho certeza de que não vai
acontecer.
Eles chegaram ao limite da Universidade de Georgetown, educadora de futuros
diplomatas americanos, casa de repouso de muitos espiões arraigados. Depois de saírem
do esconderijo secreto, Gabriel contara a Carter sobre sua parceria improvável com Paul
Rousseau e Fareed Barakat, sobre um gerente de projetos do ISIS em Londres chamado
Jalal Nasser e sobre um caça-talentos do ISIS em Bruxelas chamado Nabil Awad. Agora,
enquanto andavam pela 37th Street, mantendo-se nas sombras esguias para se proteger
do calor, Gabriel contava a Carter todo o resto — que ele e sua equipe tinham feito
Nabil Awad desaparecer das ruas de Molenbeek sem deixar rastros, que o tinham
mantido vivo nas mentes do ISIS seguindo a tradição dos grandes farsantes de guerra,
que o tinham usado para dar a Jalal Nasser o nome de uma recruta promissora, uma
mulher de uma banlieue ao norte de Paris; e o ISIS a enviara em uma viagem com tudo
pago para Santorini, então depois a carregara para a Turquia e, através da fronteira, até a
Síria. Gabriel não mencionou o nome da mulher — não o codinome e, certamente, não
o nome real — e Carter teve a educação profissional de não perguntar.
— Ela é judia, essa sua garota?
— É, mas não dá para reparar.
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