A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

O


PALMIRA, SÍRIA

campo ficava nos arredores da antiga cidade de Palmira, não muito longe da notória
prisão de Tadmor, no deserto, para onde o pai do governante mandara todos os que se
opunham a ele. Antes da guerra civil, era um posto avançado do Exército sírio na
província de Homs, mas, na primavera de 2015, o ISIS a tinha capturado basicamente
intacta e destruído muitas das impressionantes ruínas de Palmira, bem como a prisão —
mas o campo tinha sido preservado. Cercadas por um muro de quase quatro metros
encimado por espirais de arame farpado estavam barracas para quinhentas pessoas, um
refeitório, salas de recreação e de reunião, um ginásio e um gerador a diesel, que
mantinha ar-condicionado no calor do dia e a luz à noite. Todas as antigas placas
militares sírias tinham sido removidas, e a bandeira negra do ISIS ondeava e crepitava
acima do pátio central. O antigo nome da instalação nunca era mencionado. Quem se
formava ali se referia ao lugar como Campo Saladin.
Natalie viajou para lá de SUV no dia seguinte, acompanhada por Safia Bourihane.
Quatro meses haviam se passado desde o ataque ao Centro Weinberg, em Paris; nesse
tempo, Safia se tornara um ícone jihadista. Poemas lhe celebravam, ruas e praças
levavam seu nome, meninas jovens aspiravam a imitar seus feitos. Em um mundo em
que a morte era comemorada, o ISIS fazia um esforço considerável para manter Safia
viva. Ela estava sempre se mudando de um lugar para o outro em uma rede de
esconderijos na Síria e no Iraque, sempre sob escolta armada. Durante sua única
aparição em um vídeo de propaganda do ISIS, seu rosto estivera velado. Ela não usava
telefone, nunca tocava em um computador. Natalie sentia um alívio por ter sido admitida
à presença de Safia. Isso sugeria que ela tinha passado pelo interrogatório sem rastro de
suspeita. Era um deles, agora.
Via-se que Safia estava acostumada com sua alta posição. Na França, era uma cidadã
de segunda classe com perspectivas de carreira limitadas, mas, no mundo de ponta-
cabeça do califado, era uma celebridade. Estava obviamente desconfiada de Natalie, que
representava uma potencial ameaça a seu posto. De sua parte, Natalie estava satisfeita
fazendo o papel de terrorista arrivista. Safia Bourihane era o esboço a lápis no qual a dra.
Leila Hadawi se baseava. Leila Hadawi admirava Safia, mas Natalie Mizrahi ficava
enjoada em sua presença e, se tivesse a chance, injetaria uma seringa cheia de veneno em
suas veias. Inshallah, pensou enquanto a SUV acelerava pelo deserto sírio.

O árabe de Safia era rudimentar, no máximo. Portanto, passaram a viagem
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