com o tráfego de caravanas na Rota da Seda. Impérios vieram e se foram e, no século I
d.C., os romanos declararam que Palmira estava sujeita ao seu império. A antiga cidade à
beira de um oásis nunca mais seria a mesma.
As tamareiras ao longo do caminho se mexiam ao vento fresco do deserto. Por fim,
sumiram, e o Templo de Bel, centro da vida religiosa na Palmira antiga, apareceu.
Natalie diminuiu o passo até parar e olhou, boquiaberta, a catástrofe espalhada pelo solo
do deserto. As ruínas do templo, com seus portões e suas colunas monumentais,
estavam entre as mais bem preservadas de Palmira. Agora, as ruínas estavam em ruínas,
com apenas uma parte de uma única parede intacta. Ismail, o egípcio, obviamente não se
abalou com os danos.
— Shirk — disse, dando de ombros e usando a palavra árabe para politeísmo. —
Tinha de ser destruído.
— Você estava aqui quando aconteceu?
— Ajudei a carregar os explosivos.
— Alhamdulillah — ela se ouviu sussurrar. “Deus seja louvado.”
As pedras caídas brilhavam à luz fria do luar. Natalie abriu caminho lentamente pelos
escombros, com cuidado para não torcer o tornozelo, e andou pela Grande Colunata,
avenida cerimonial que ia do Templo de Bel ao Arco do Triunfo e ao Tetrápilo e ao
Templo Funerário. Também ali o ISIS impusera uma sentença de morte islâmica ao
passado não islâmico. As colunatas tinham sido derrubadas; os arcos, destruídos.
Qualquer que fosse o fim do ISIS, ele já tinha deixado uma marca indelével no Oriente
Médio. Palmira, pensou Natalie, nunca mais seria a mesma.
— Você também fez isso?
— Ajudei — admitiu Ismail, sorrindo.
— E as Grandes Pirâmides de Gizé? — perguntou ela, manipulando-o. — Vamos
destruir também?
— Inshallah — ele sussurrou.
Natalie foi em direção ao Templo de Baalshamin, mas logo suas pernas ficaram
pesadas e as lágrimas turvaram sua visão, então ela se virou e, com Ismail em seu
encalço, voltou pelas tamareiras até o portão do Campo Saladin. Na sala principal de
recreação, alguns recrutas estavam assistindo a um novo vídeo de recrutamento do ISIS
divulgando as alegrias da vida no califado — um jihadista barbudo brincando com uma
criança em um parque arborizado, nada de cabeças decepadas visíveis, é claro.
Na cantina, Natalie tomou chá com Selma, sua amiga da Tunísia, e contou, com os
olhos arregalados, sobre as maravilhas logo além das muralhas do campo. Então, voltou
ao seu quarto e desmaiou na cama. Em seus sonhos, caminhava por ruínas — uma
grande cidade romana, uma vila árabe na Galileia. Seu guia era uma mulher encharcada
de sangue com olhos castanhos acobreados. Ele é tudo o que se poderia esperar. Inshallah
você o conheça algum dia. Em seu último sonho, ela estava dormindo em sua própria
cama — não sua cama em Jerusalém, mas sua cama de infância na França. Houve batidas
na porta e logo seu quarto se encheu de homens fortes com longos cabelos e barbas
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1