Tikriti. E sabemos que passou vários dias em um campo de treinamento em Palmira,
onde conseguiu achar tempo para fazer um tour das ruínas à luz do luar — ele hesitou
antes de continuar. — E agora sabemos que foi levada para uma vila perto de Mosul,
onde passou vários dias em uma casa bem grande. Vimos você andando de um lado para
o outro em um pequeno pátio.
— Vocês deviam ter bombardeado aquela casa.
Mikhail deu um passo para o lado e, com um movimento da mão, convidou-a para
entrar. Ela ficou paralisada.
— O que foi?
— Acho que ele vai ficar decepcionado comigo.
— Impossível.
— É o que vamos ver — disse ela, e entrou.
Eles a abraçaram, beijaram seu rosto, agarraram seus braços como se tivessem medo de
que ela pudesse ser carregada para longe deles e nunca mais voltar. Dina removeu o
hijab da cabeça de Natalie; Gabriel colocou uma taça de vinho branco gelado na mão
dela. Era um Sauvignon Blanc da Galileia Ocidental que Natalie adorava.
— Não posso, jamais — ela riu. — É haram.
— Hoje, não é — disse ele. — Hoje, você é uma de nós mais uma vez.
Havia comida e havia música e havia um milhão de perguntas que ninguém ousava
fazer; haveria tempo para isso mais tarde. Eles tinham enviado uma agente para a barriga
da besta, e essa agente voltara para eles. Iam saborear sua conquista. Iam celebrar a vida.
Só Gabriel pareceu se conter na farra. Ele não aproveitou a comida nem o vinho, só
o café. Principalmente, observou Natalie com uma intensidade enervante, como se
estivesse se preparando para pintar um retrato dela. Ela se lembrou das coisas que ele
tinha dito sobre a mãe dele naquele primeiro dia na fazenda no vale de Jezreel, de como
ela raramente sorria ou ria, de como ela não conseguia demonstrar prazer em ocasiões
festivas. Talvez ele tivesse herdado essa condição. Ou, talvez, pensou Natalie, ele
soubesse que a noite não era propícia para celebração.
Por fim, como se por um sinal imperceptível, a festa acabou. Os pratos foram
recolhidos, o vinho foi tirado. Em uma das salas de estar, uma poltrona de encosto alto
fora reservada para Natalie. Não havia câmeras nem microfones visíveis, mas, com
certeza, pensou ela, os trabalhos estavam sendo gravados. Gabriel escolheu ficar em pé.
— Em geral — disse ele —, prefiro começar estas sessões pelo começo. Mas talvez,
hoje, devêssemos começar pelo fim.
— Sim — concordou ela. — Talvez devêssemos.
— Quem estava naquela casa grande perto de Mosul?