A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

G


AMÃ, JORDÂNIA — SEDE DA CIA

abriel voltou à rua Narkiss só pelo tempo suficiente para jogar algumas peças de
roupa em uma mala. Então, entrou no banco traseiro de sua SUV para uma viagem em
alta velocidade através da Cisjordânia até o Aeroporto Queen Alia, de Amã, onde um dos
jatos Gulfstream de Vossa Majestade estava abastecido e pronto para a decolagem. Fareed
Barakat estava esticado em uma das poltronas de couro giratórias, a gravata afrouxada,
parecendo um executivo ocupado no fim de um dia longo mas lucrativo. O avião
começou a taxiar antes de Gabriel sentar-se em sua cadeira, e um momento depois estava
no ar. Ainda subia quando passou sobre Jerusalém.
— Olhe os assentamentos — disse Fareed, apontando na direção dos postes de
iluminação enfileirados descendo pelos antigos morros até a Cisjordânia. — A cada ano,
mais e mais. No ritmo em que vocês estão construindo, Amã logo vai ser um subúrbio
de Jerusalém.
O olhar de Gabriel estava em outro lugar, no antigo prédio de calcário no fim da rua
Narkiss, onde sua esposa e seus filhos dormiam em paz por causa de pessoas como ele.
— Talvez isto tenha sido um erro — disse, em voz baixa.
— Você preferia voar com a El Al?
— Eu poderia ter pedido uma refeição kosher e não precisaria ouvir um sermão sobre
os malfeitos de Israel.
— Desculpe, não temos nenhuma comida kosher a bordo.
— Não se preocupe, Fareed. Eu já comi.
— Algo para beber? Que tal um filme? Vossa Majestade consegue todos os novos
filmes americanos com os amigos de Hollywood.
— Acho que vou só dormir.
— Sábia decisão.
Fareed desligou sua luz quando o Gulfstream saiu do espaço aéreo de Israel, e logo
estava dormindo profundamente. Gabriel nunca conseguia dormir em aviões, um
problema que nem o assento totalmente reclinável do jato era capaz de curar. Ele pediu
café para os tripulantes e assistiu distraidamente ao filme bobo que apareceu em sua tela
particular. Seu telefone não lhe fez companhia. O avião tinha Wi-Fi, mas Gabriel tinha
desligado e desmontado seu celular antes de atravessar a fronteira da Jordânia. Como
regra geral, era melhor não deixar um celular se conectar à rede sem fio de um monarca
— nem a uma rede israelense, na verdade.
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