A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

A


ALEXANDRIA, VIRGINIA

mesma chuva que encharcava Georgetown batia no modesto sedã coreano de Qassam
el-Banna enquanto ele dirigia por uma seção arborizada da Route 7. Ele tinha dito a
Amina que ia fazer uma visita de trabalho. Era uma mentira, mas pequena. Fazia mais de
um ano que Qassam saíra da antiga empresa de consultoria em TI, dizendo aos colegas e
a sua esposa que ia começar um negócio próprio, algo arriscado no superlotado mundo
tecnológico de Northern Virginia. Os motivos verdadeiros para essa mudança de
carreira, porém, eram outros. Qassam saíra do emprego anterior porque precisava de
algo mais importante que dinheiro. Precisava de tempo. Não podia ficar à disposição de
Larry Blackburn, seu ex-supervisor — o Larry com bafo de esgoto, secretamente
viciado em analgésicos e com uma queda por prostitutas baratas de El Salvador. A
lealdade de Qassam agora pertencia a um homem com ambições maiores. Ele não sabia o
nome verdadeiro do homem, só seu nom de guerre. Era um iraquiano, o homem que
chamavam de Saladin.
Não surpreendentemente, a jornada de Qassam tinha começado no ciberespaço,
onde, com sua identidade cuidadosamente escondida, ele saciava seu enorme apetite pelo
sangue e as bombas do pornô jihadista — um apetite que aparecera durante a ocupação
americana do Iraque, quando ele ainda estava na universidade. Uma noite, depois de um
dia miserável no trabalho e de uma volta para casa infernal, ele batera na porta virtual de
um recrutador do ISIS, querendo saber como viajar à Síria para se tornar soldado. O
recrutador fizera suas próprias perguntas e convencera Qassam a continuar no subúrbio
de Washington. Pouco depois, mais ou menos um mês, ele notou que estava sendo
seguido. Primeiro, teve medo de ser o FBI, mas logo percebeu que via sempre o mesmo
homem. O homem finalmente abordou Qassam em um Starbucks perto de Seven
Corners e se apresentou. Era um jordaniano que morava em Londres. Seu nome era
Jalal Nasser.
A chuva agora era torrencial, mais como uma tempestade de verão que como uma
garoa constante e lenta de outono. Talvez, os cenários apocalípticos fossem verdade,
afinal, pensou ele. Talvez, a Terra estivesse irrevogavelmente quebrada. Ele continuou
pela Route 7 até o centro de Alexandria e seguiu para um parque industrial na
Eisenhower Avenue. Entre uma oficina automotiva e um estande de tiro ficavam os
escritórios da empresa de mudanças Dominion Movers. Dois caminhões de carga de
fabricação americana estavam estacionados em frente. Outros dois estavam parados no
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