A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— O voo dela foi marcado para pousar às quatro e meia, mas está alguns minutos
adiantado.
— Você checou?
Ele fez que sim com a cabeça. Ele era bom, pensou Saladin, tão bom quanto
Mohamed Atta. Pena que nunca alcançaria a mesma fama. Mohamed Atta era lembrado
com reverência em círculos jihadistas, mas apenas um punhado de pessoas no
movimento chegaria a conhecer o nome Qassam el-Banna.
— Na verdade — disse Saladin —, houve uma pequena mudança de planos.
— Em relação a...?
— A você.
— O que em relação a mim?
— Quero que você saia do país hoje à noite e vá para o califado.
— Mas, se eu fizer uma reserva de última hora, os americanos...
— Não vão suspeitar de nada — disse Saladin, firmemente. — É muito perigoso
você ficar aqui, irmão Qassam. Você sabe demais.
O egípcio não respondeu.
— Você limpou seus computadores?
— Sim, é claro.
— E sua esposa não sabe nada de seu trabalho?
— Nada.
— Ela irá com você?
— Duvido.
— Uma pena — respondeu Saladin. — Mas posso garantir que não faltam jovens
bonitas no califado.
— É o que ouvi dizer.
O egípcio sorria pela primeira vez. Quando Saladin levantou a almofada bordada,
mostrando a Glock silenciada, o sorriso evaporou.
— Não se preocupe, meu irmão — confortou-o Saladin. — Era só uma precaução
caso o FBI entrasse pela porta em seu lugar. — Ele esticou a mão. — Me ajude a
levantar. Vou sair com você.
Arma em uma mão, bengala na outra, Saladin seguiu Qassam el-Banna até o carro.
— Se, por algum motivo, você for preso a caminho do aeroporto...
— Não vou dizer nada — completou o jovem egípcio bravamente. — Nem se eles
me torturarem.
— Não ouviu falar, irmão Qassam? Os americanos não fazem mais esse tipo de
coisa.
Qassam el-Banna sentou-se no banco do motorista de seu carro, fechou a porta e
ligou o motor. Saladin bateu de leve na janela com a bengala. A janela desceu. O jovem
egípcio o olhou curioso.
— Só mais uma coisa.
— Sim?

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