A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

sido escolhido para dirigir o primeiro caminhão. Em muitos aspectos, era a tarefa mais
importante, pois, se ele falhasse, o segundo caminhão não chegaria ao alvo. Ele batizara
o veículo de Buraq, o corcel celestial que levara o profeta Maomé de Meca a Jerusalém na
Viagem Noturna. O tunisiano faria uma viagem similar à noite, uma viagem que
terminaria, inshallah, no paraíso.
Ela começou, porém, em uma feia região industrial da Eisenhower Avenue. Ele foi
pela avenida até a via que a ligava à Beltway, e de lá para esta rodovia. O trânsito estava
pesado e andava um pouco abaixo do limite de velocidade. O tunisiano passou com
facilidade para a faixa correta e olhou no espelho retrovisor externo. O segundo
Freightliner estava a cerca de quatrocentos metros atrás, exatamente onde deveria estar. O
tunisiano olhou para a frente e começou a rezar.
— Em nome de Alá, o Clemente, o Misericordioso...


Saladin também fez a oração obrigatória da noite, mas com muito menos fervor que os
homens no armazém, pois não tinha intenção alguma de atingir o martírio naquela noite.
Depois, vestiu um terno cinza-escuro, uma camisa branca e uma gravata azul-marinho
lisa. Sua mala estava feita e esperando na porta. Ele a arrastou até o corredor e, usando a
bengala para se apoiar, mancou até o elevador. Lá embaixo, pegou um recibo na
recepção, antes de ir até a entrada de automóveis. O carro estava esperando. Ele instruiu
o manobrista a colocar sua bagagem no porta-malas e sentou-se atrás do volante.


Diretamente do outro lado da rua do Four Seasons, em frente à entrada de uma farmácia
CVS, havia um Buick Regal alugado. Eli Lavon estava no banco do passageiro e Mikhail
Abramov, no volante. Eles tinham passado aquele longo dia observando a frente do
hotel, às vezes do conforto do carro, às vezes da calçada ou de um café e, brevemente, do
interior do próprio hotel. O alvo, o suposto cidadão saudita Omar al-Farouk, não tinha
sido visto nem de relance. Uma ligação à telefonista do hotel confirmara, porém, que o
senhor al-Farouk, quem quer que fosse, era, de fato, hóspede daquele estabelecimento.
Ele tinha dito que não queria receber nenhuma ligação. Uma passada em frente à porta
do quarto revelara uma placa de NÃO PERTURBE na maçaneta.
Mikhail, um homem de ação e não de observação, estava batucando os dedos
ansiosamente no console central, mas Lavon, veterano com cicatrizes de batalha de
muitas vigílias do tipo, estava imóvel como um Buda de pedra. Seus olhos castanhos

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