cuidadosamente em direção à beira do precipício e olhou para baixo. No pátio, havia
uma cratera profunda, muito mais profunda do que a deixada em frente ao Centro
Weinberg em Paris, um choque de meteoro. A passarela que ligava o CNC ao
Escritório do Diretor de Inteligência Nacional tinha sumido, bem como toda a fachada
norte do prédio. Dentro de suas salas de reunião e de seus escritórios destruídos não
brilhava uma única luz. Um sobrevivente acenou para Gabriel da beira do penhasco de
um andar superior. Gabriel, sem saber o que fazer, acenou de volta.
O trânsito na Beltway tinha parado, faróis dianteiros brancos no círculo interno,
faróis traseiros vermelhos no círculo externo. Gabriel apalpou a frente de sua jaqueta e
descobriu que ainda estava com seu celular. Tirou-o do bolso e ligou-o. Ainda tinha
serviço. Discou o número de Mikhail e levou o telefone à orelha, mas só havia silêncio.
Ou talvez Mikhail estivesse falando e Gabriel não conseguisse ouvir. Percebeu que não
tinha ouvido nada desde que recuperara a consciência — nem uma sirene, nem um
grunhido de dor ou grito de ajuda, nem seus passos pelos escombros. Estava em um
mundo silencioso. Perguntou a si mesmo se a condição era permanente e pensou em
todos os sons que nunca mais ouviria. Nunca mais escutaria os balbucios sem sentido de
seus filhos nem se emocionaria com as árias de La Bohème. Nem ouviria a batida suave
das cerdas de um pincel Winsor & Newton Série 7 em um Caravaggio. Mas o som de
que mais sentiria falta era o canto de Chiara. Gabriel sempre brincava dizendo que tinha
se apaixonado por Chiara na primeira vez que ela fez fettuccini com cogumelos para ele,
mas não era verdade. Seu coração tinha sido dela na primeira vez que a ouviu cantar uma
musiquinha de amor italiana boba, achando que ninguém estava ouvindo.
Gabriel desligou a ligação para Mikhail e andou com dificuldade pelos escombros do
que um momento atrás era o andar de Operações. Precisava dar o braço a torcer: Saladin
tinha dado um golpe de mestre. Merecia ser reconhecido. Os mortos estavam por todo
canto. Os sobreviventes atordoados, os sortudos, eles estavam se levantando com
esforço em meio ao entulho. Gabriel localizou o ponto onde ele estava quando ouviu a
primeira explosão. Paul Rousseau sangrava muito devido a várias lacerações e segurava
um braço obviamente quebrado. Fareed Barakat, o último sobrevivente, tinha saído sem
um arranhão. Parecendo apenas levemente irritado, ele varria com os dedos a poeira de
seu terno inglês feito à mão. Adrian Carter ainda estava segurando um telefone à orelha,
aparentemente sem perceber que o fone já não estava conectado à base.
Gabriel tirou gentilmente o telefone da mão de Carter e perguntou se Safia Bourihane
estava morta. Não conseguiu ouvir o som da própria voz nem a resposta de Carter. Era
como se tivessem apertado o botão de mudo. Ele olhou para a tela de vídeo gigante, mas
Safia tinha desaparecido. E então, ele percebeu que Natalie também tinha.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1