A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

S


CAFÉ MILANO, GEORGETOWN

afia estava levemente sem fôlego quando entrou no Café Milano. Com a serenidade de
um mártir, caminhou pelo saguão até o balcão do maître.
— Al-Farouk — anunciou.
— O senhor al-Farouk já chegou. Por aqui, por favor.
Safia seguiu-o até o salão principal e então até a mesa onde Saladin estava sentado
sozinho. Ele se levantou lentamente com a perna machucada e deu um beijo de leve em
cada bochecha.
— Asma, meu amor — disse, em inglês perfeito. — Você está absolutamente linda.
Ela não entendeu o que ele estava dizendo, então simplesmente sorriu e se sentou.
Enquanto voltava ao seu lugar, Saladin olhou em direção ao homem sentado na ponta
do bar. O homem com cabelo escuro e de óculos que entrara no restaurante alguns
minutos depois de Saladin. O homem, pensou Saladin, que demonstrara grande
interesse na entrada de Safia e que segurava um celular com força na orelha. Só podia
significar uma coisa: a presença de Saladin em Washington não tinha passado em
branco.
Ele levantou os olhos para a televisão do bar. Estava ligada na CNN. O canal apenas
começava a captar o tamanho da calamidade que se abatera sobre Washington. Houvera
ataques no Centro Nacional de Contraterrorismo, no Lincoln Memorial e no Kennedy
Center. O canal também estava ouvindo relatos, ainda não confirmados, de ataques em
uma série de restaurantes no complexo de Washington Harbour. Os clientes do Café
Milano estavam claramente nervosos. A maioria olhava para o celular, e cerca de uma
dezena estava reunida em torno do bar, assistindo à televisão. Mas não o homem de
cabelo escuro e óculos. Ele estava tentando de todo jeito não olhar para Safia. Era hora,
pensou Saladin, de ir embora dali.
Ele colocou uma mão de leve sobre a de Safia e olhou nos olhos hipnóticos dela. Em
árabe, perguntou:
— Você a deixou onde eu mandei?
Ela assentiu.
— Os americanos seguiram você?
— Tentaram. Pareciam confusos.
— Com razão — disse ele, olhando de relance para a televisão.
— Foi tudo bem?
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