A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

À


JERUSALÉM–TIBERÍADES

s dez horas da manhã seguinte, o Museu de Israel anunciou que tinha adquirido uma
obra de Vincent van Gogh até então desconhecida — Marguerite Gachet à sua penteadeira,
óleo sobre tela, 104 × 60 cm — do espólio de Hannah Weinberg. Mais tarde, o museu
seria forçado a admitir que, na realidade, tinha recebido a pintura de um doador
anônimo, que, por sua vez, a tinha herdado de mademoiselle Weinberg depois de seu
trágico assassinato em Paris. O museu viria a sofrer enorme pressão para revelar a
identidade do doador, mas sistematicamente se recusaria, assim como o governo da
França, que permitira a transferência da pintura do solo francês a Israel, para o horror
dos editorialistas e da elite cultural. Era, diziam, outro golpe ao orgulho francês, e esse
era culpa deles mesmos.
Naquele domingo de dezembro, porém, a pintura logo foi esquecida. Pois,
exatamente ao meio-dia, o primeiro-ministro anunciou que Gabriel Allon estava vivo e
seria o próximo chefe do Escritório. Não houve muita surpresa; a imprensa estava cheia
de boatos e especulações há dias. Ainda assim, o país levou um choque ao ver o anjo em
carne e osso, parecendo, para o mundo todo, um mero mortal. As roupas dele para a
ocasião tinham sido escolhidas com cuidado: uma camisa branca de tecido Oxford, uma
jaqueta de couro preta, calças cáqui justas, um par de sapatos estilo brogue de camurça
com solas de borracha que não faziam barulho quando ele caminhava. Incisivamente, o
primeiro-ministro se referiu a ele não como ramsad, mas como memuneh, aquele que está
no comando.
Os flashes das câmeras eram como o brilho de suas lâmpadas halógenas de trabalho.
Ele ficou imóvel, com as mãos unidas atrás das costas como um soldado em descanso,
enquanto o primeiro-ministro emitia uma versão altamente higienizada de suas
conquistas profissionais. Então, ele convidou Gabriel a falar. Seu mandato, prometeu,
olharia para o futuro, mas estaria enraizado nas grandes tradições do passado. A
mensagem era inconfundível. Um assassino tinha sido colocado no comando do serviço
de inteligência de Israel. Quem tentasse prejudicar o país ou seus cidadãos enfrentaria
consequências graves, possivelmente letais.
Quando os repórteres tentaram questioná-lo, ele sorriu e seguiu o primeiro-ministro
para o gabinete, onde falou por bastante tempo sobre seus planos e prioridades e os
muitos desafios, alguns imediatos, alguns em longo prazo, do Estado judeu. O ISIS,
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