C
PARIS
om algumas medidas de contravigilância — uma mudança de rota em uma rua de mão
única, uma parada breve em um bistrô com uma saída de serviço pela cozinha —,
Gabriel despistou os melhores observadores do Grupo Alpha de Paul Rousseau.
Depois, ele foi a pé, de metrô e de táxi até um pequeno prédio nos arredores do Parque
Bois de Boulogne. Segundo o painel do interfone, o apartamento 4B era ocupado por
alguém chamado Guzman. Gabriel apertou o botão, esperou o clique das fechaduras
automáticas e entrou.
No andar superior, Mikhail Abramov destrancou a porta para ele. O ar tinha um
cheiro amargo de fumaça. Gabriel espiou a cozinha e viu Eli Lavon tentando extinguir
um incêndio que ele mesmo tinha começado no micro-ondas. Lavon era uma figura
diminuta, com cabelos esparsos e um rosto nada memorável. Sua aparência, como a
maioria das outras coisas nele, enganava. Camaleão e predador natural, Lavon era
considerado o melhor artista de vigilância de ruas já produzido pelo Escritório. Ari
Shamron certa vez dissera que Lavon era capaz de desaparecer enquanto estava
apertando sua mão. Isso não estava longe de ser verdade.
— Quanto tempo você levou para despistá-los dessa vez? — perguntou Lavon
enquanto jogava uma massa disforme de plástico tostado na pia.
— Menos do que você levou para incendiar o apartamento seguro.
— Uma confusãozinha com o ajuste de tempo. Você me conhece, nunca fui bom com
números.
O que não era verdade. Lavon também era, por acaso, um investigador financeiro
habilidoso que conseguira sozinho rastrear milhares de dólares de bens saqueados
durante o Holocausto. Arqueólogo de formação, ele era um escavador natural.
Gabriel entrou na sala de estar. Yaakov Rossman, veterano em cooptar agentes e
fluente em árabe, parecia estar considerando cometer uma violência contra seu notebook.
Yossi Gavish e Rimona Stern estavam jogados no sofá, como se fossem universitários.
Yossi era um oficial de alto nível no departamento de Pesquisa, nome pelo qual o
Escritório se referia à sua divisão de análise. Alto e careca, gostava de vestir tweed, tinha
lido todos os clássicos na Faculdade All Souls, em Oxford, e falava hebraico com um
forte sotaque inglês. Também tinha atuado um pouco — principalmente em peças
shakespearianas — e era um violoncelista talentoso. Rimona servia na unidade do
Escritório responsável por espionar o programa nuclear do Irã. Tinha cabelo loiro