A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Então, vamos tirá-lo dali. Antes tarde do que nunca.
— E os americanos?
— O que têm eles? — perguntou Gabriel.
— Vão querer uma função.
— Não vão ter; pelo menos não agora.
— A tecnologia deles seria útil.
— Nós também temos tecnologia.
— Não como a dos americanos — disse Fareed. — Eles são donos de redes de
internet, celular e satélite.
— Essas coisas não querem dizer nada se você não souber o nome real do seu alvo.
— É bem verdade. Então, trabalhamos juntos? O Escritório e o DGI?
— E os franceses — completou Gabriel.
— Quem é o dono da brincadeira?
Quando Gabriel não respondeu, Fareed franziu o cenho. O jordaniano não gostava
de imposições, mas também não estava a fim de uma discussão com o homem que,
muito provavelmente, seria o chefe do Escritório por um longo tempo.
— Não vou ser tratado como um empregado doméstico. Entendeu? Já aguento isso
com os americanos. Eles estão acostumados demais a pensar em nós como uma filial de
Langley.
— Eu nem sonharia com isso, Fareed.
— Muito bem — ele deu um sorriso de concierge. — Então, por favor, diga-me
como o DGI pode servir.
— Você pode começar me dando tudo o que tem sobre Jalal Nasser.
— E depois?
— Pode ficar bem longe dele. Jalal agora me pertence.
— É todo seu. Mas sem dano colateral — o jordaniano deu um tapinha no dorso da
mão de Gabriel. — Vossa Majestade não gosta de danos colaterais. E eu também não.


Quando Gabriel chegou ao boulevard Rei Saul, encontrou Uzi Navot sozinho em sua
sala, comendo sem alegria um almoço composto por peixe branco no vapor e vegetais
murchos verde-acinzentados. Usava um par de pauzinhos envernizados em vez de garfo
e faca, porque isso o fazia comer mais devagar e, teoricamente, tornava mais satisfatória a
refeição nada apetitosa. Era Bella, sua esposa exigente, que lhe infligia essa humilhação.
Bella monitorava todos os pedaços de comida que entravam na boca do marido e
acompanhava o peso dele com a atenção de uma geóloga assistindo a um vulcão
entrando em erupção. Duas vezes por dia, quando ele acordava e antes de se deitar,
Navot tinha de subir na precisa balança de banheiro de Bella. Ela registrava as flutuações

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