— À sua maneira, Eli está empreendendo uma guerra naquelas escavações embaixo do
Muro das Lamentações. Nossos irmãos muçulmanos esqueceram que o Domo da Rocha e a
Mesquita de Al-Aqsa foram construídos sobre as ruínas dos dois templos judeus. Agora a
batalha política pela Palestina é uma guerra religiosa por Jerusalém. E nós temos que provar
ao mundo que chegamos lá primeiro.
O vento gemeu entre as pedras do memorial. Shamron levantou o colarinho do casaco e
dobrou a esquina, entrando numa rua nomeada em homenagem a Hannah Arendt, a filósofa e
teórica política que cunhou a expressão "a banalidade do mal" para descrever o papel de
Eichmann no extermínio de seis milhões de judeus europeus. Shamron, que passara horas
sozinho com o assassino num esconderijo em Buenos Aires, considerava essa caracterização
equivocada. Ele entrou numa cafeteria e, ao ver a placa PROIBIDO FUMAR, sentou numa
mesa do lado de fora.
— Alemães saudáveis — resmungou, acendendo um cigarro. — Bem o que o mundo
precisa.
— Pensei que você os tivesse perdoado.
— Eu perdoei, mas receio que nunca possa esquecer. E eu também gostaria que o
governo deles considerasse ficar distante da República Islâmica do Irã. Mas há muito tempo
aprendi a não pedir coisas impossíveis.
Shamron ficou em silêncio enquanto a garçonete, uma linda mulher com a pele leitosa,
lhes serviu café. Ele olhou para a rua movimentada e sorriu.
— Qual é a graça? — perguntou Gabriel.
— Após sair daquela prisão saudita, você me falou que nunca faria outro trabalho para
o Escritório. E agora está prestes a executar uma de nossas operações mais ousadas até hoje,
tudo porque uma garota levou um tombo na Basílica de São Pedro.
— Ela tem um nome. E não foi um tombo. Ela foi empurrada por Cario Marchese.
— Vamos lidar com Cario depois de Massoud.
— Imagino que você tenha revisado o plano.
— Minuciosamente. E meus instintos me dizem que você não terá mais de trinta
segundos para meter Massoud dentro do carro.
— Nós fizemos os ensaios com vinte. Mas, pela minha experiência, as coisas sempre
acontecem mais rápido na vida real.
— Em particular quando você está envolvido — gracejou Shamron. — Mas hoje à
noite você vai ser só um espectador.
— Um espectador muito ansioso.
— Imagino que sim. Se tudo der errado, vai ocorrer um desastre diplomático e os
iranianos proclamarão uma vitória. O mundo não parece reparar ou se importar que eles
ataquem nosso povo sempre que lhes convém. Mas se respondemos na mesma moeda, somos
rotulados como matadores maquiávelicos.
— Eles poderiam nos chamar de coisas piores.
— Por exemplo?
— Fracos — respondeu Gabriel.
Shamron assentiu e mexeu seu café, pensativo.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1