ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Existe algum caminho que nos leve para baixo?
— Ninguém nunca esteve num ponto inferior a este... pelo menos ninguém conhecido.
Lavon se virou e estudou a parede oposta da caverna. Nela havia mais três aquedutos.
— Escolha um — sugeriu ele.
— Eu sou um restaurador de arte, Eli. Você escolhe.
Lavon fechou os olhos por alguns segundos e então apontou para o aqueduto da direita.
Naquele momento, Hassan Darwish estava a menos de 30 metros deles, na cisterna
embaixo do Poço das Almas. Numa das mãos, segurava a pistola Makarov que Abdullah
Ramadan lhe dera antes de se enfiar nas profundezas do Nobre
Santuário para confrontar os judeus invasores. O som da batalha breve e intensa tinha
ecoado pelos aquedutos. O imã escutou tudo, inclusive seu próprio nome sendo gritado em
agonia. Agora ele podia ouvir os passos suaves e abafados de pelo menos dois homens se
aproximando da câmara que Darwish abrira secretamente na Montanha Sagrada. Lá estava
escondida a bomba que destruiria a montanha e, junto, o Estado de Israel. Porém, havia mais
uma coisa ali dentro além dos explosivos — um segredo que ninguém, em especial os judeus,
tinha permissão de ver.
Darwish consultou o relógio: 14h27. Sob o comando dele, o Sr. Farouk ajustara o timer
na arma para detonar às três horas. Darwish tinha escolhido a hora em que Cristo
supostamente morrera na cruz como um insulto calculado a todo o cristianismo, mas essa não
era a única razão. Naquele horário, as rezas na Al-Aqsa já teriam terminado e as multidões de
fiéis muçulmanos estariam saindo do Nobre Santuário. Mas, por enquanto, os 350 mil metros
quadrados da grande mesquita estavam lotados com mais de cinco mil pessoas. Darwish não
tinha escolha além de transformar todas elas em mártires. Bem como a si mesmo.
Ele permaneceu na cisterna embaixo do Poço das Almas por mais um tempo, recitando
as últimas rezas do shahid. Empunhando a pistola e uma lanterna, entrou numa passagem
estreita. A via o levou para baixo e para a época anterior ao Islã e ao Profeta. A época da
ignorância, pensou. A época dos judeus.
O primeiro aqueduto tinha cerca de 5 metros de comprimento e terminava numa
cisterna minúscula, então eles voltaram rapidamente pelo mesmo caminho até o Grande Mar e
adentraram o segundo túnel. Após uns poucos passos, Lavon cruzou um vão do lado direito
que levava a outra passagem. O chão estava cheio de fragmentos de pedra. Lavon os
inspecionou com a luz da lanterna e passou a mão pelas beiras da abertura.
— Isto é novo.
— De quando?
— Novinho em folha — respondeu Lavon. — Parece que foi cortado há bem pouco
tempo.
Em silêncio, ele seguiu em frente. Logo depois, surgiu um lance com degraus curvos,
feitos com ferramentas modernas. Lavon desceu correndo e Gabriel se esforçou para
acompanhá-lo. Na base da escada, havia um arco com algumas palavras em árabe inscritas no
topo. Eles foram adiante sem dar atenção, mas então pararam bruscamente.
— Que droga é essa? — perguntou Gabriel. Lavon parecia atônito.
— Eli, o que é?

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