— Vai me levar para esquiar pelo menos uma vez?
— Em qualquer lugar, menos em St. Moritz ou Gstaad.
— Sinto falta de Veneza.
— Eu também.
— Talvez Francesco Tiepolo possa lhe dar algum trabalho.
— Ele me paga uma mixaria.
Ela repousou a cabeça no ombro de Gabriel. Seu cabelo cheirava a baunilha.
— Você acha que vai continuar?
— A calmaria? Chiara assentiu.
— Por algum tempo — respondeu ele. — Se tivermos sorte.
— Quanto tempo você vai ficar em Roma?
— Isso depende só de Cario.
— Não chegue perto dele sem uma arma no bolso.
— Na verdade, eu estava planejando atrair Cario. Chiara estremeceu.
— Vamos sair deste frio — disse Gabriel. — Você vai ficar doente.
— Não. Eu também amo isso.
— O frio da noite?
— E o aroma dos pinheiros e dos eucaliptos. Tem cheiro de...
— De quê, Chiara?
— De casa — completou ela. — É bom finalmente estar em casa.
49
Piazza di Sant'Ignazio, Roma
Quando Gabriel entrou na piazza, dois dias depois, o sol brilhava no céu sem nuvens e
as mesas do Le Cave formavam fileiras bem ordenadas
sobre os paralelepípedos. Numa delas, à sombra de um guarda-sol, estava o general
Ferrari, do Esquadrão de Arte. Próximo a um de seus cotovelos, havia uma cópia da edição
matinal do Corriere della Sera, que ele mostrou a Gabriel. O jornal estava aberto numa
matéria sobre a recuperação inesperada de duas obras de arte roubadas em Paris: um Cézanne
era a atração principal e um vaso grego de Amykos.
— Eu tinha razão — comentou o general. — Você de fato sabe pensar como um
criminoso.
— Eu não tive nada a ver com isso.
— E eu ainda tenho uma mão direita em perfeito funcionamento. — Ferrari perscrutou
Gabriel por um instante com seu olho bom antes de perguntar se ele mesmo roubara as peças.
— A verossimilhança operacional exigiu que eu usasse os serviços de um profissional.
— Então foi um roubo encomendado?
— Pode-se dizer que sim.
— Esse ladrão atua na Itália?
— Sempre que pode.