— Eu sei o que gostaria de fazer.
— Você tem muitas evidências?
— O suficiente para amarrar uma cordata no pescoço magrelo dele.
— Como você quer proceder?
— Eu vou mandar Cario renunciar ao posto no Banco do Vaticano. Mas antes ele vai
ter uma chance de confessar seus pecados.
O general sorriu.
— Eu sempre achei que uma confissão faz bem para a alma.
Após o almoço, Gabriel atravessou o rio até o velho palazzo desbotado em Trastevere
que fora transformado num velho prédio sem graça. Ele ainda tinha a chave. Ao entrar no
saguão, verificou de novo a caixa de correio. Dessa vez não havia nada.
Gabriel subiu as escadas e entrou no flat. Estava exatamente como o deixara quase
quatro meses antes, com uma exceção: a luz fora cortada. Ele sentou na escrivaninha dela,
observando as sombras do entardecer tomarem o aposento. Poucos minutos depois das seis,
Gabriel ouviu o barulho de uma chave sendo inserida na fechadura. A porta se abriu e a Dra.
Claudia Andreatti veio flutuando em sua direção pela escuridão.
A morte de sua irmã poupara o mundo de um desastre, o que significava que Paola
Andreatti não merecia nada menos do que toda a verdade. Não a versão do Escritório, não a
versão do Vaticano. Tinha que ser a verdade sem evasivas e sem consideração às
sensibilidades de indivíduos ou instituições poderosas. Uma verdade que ela pudesse levar ao
túmulo de sua irmã e, algum dia, ao seu próprio.
Gabriel lhe contou a história de sua extraordinária jornada do domo da Basílica de São
Pedro até o buraco no coração da Montanha Sagrada, onde encontrara os 22 pilares do
Primeiro Templo de Salomão e a bomba que podia ter causado um conflito de proporções
bíblicas. Paola ficou em silêncio o tempo todo, com as mãos apoiadas no colo. Os olhos que o
observavam na escuridão eram idênticos aos que o encararam do chão da basílica. A voz,
quando ela finalmente falou, era a mesma que lhe dirigira a palavra na escadaria do Museu do
Vaticano, na noite de sua morte.
— O que você vai fazer com Cario?
A resposta de Gabriel pareceu lhe causar uma dor física.
— Só isso? — questionou ela.
— Se os promotores italianos fizerem acusações contra ele...
— Eu sei como o sistema judiciário funciona na Itália, Sr. Allon — interrompeu-o
Paola. — O caso vai se arrastar por anos e há boas chances de que ele nunca veja o interior
de uma cela.
— O que você quer, Dra. Andreatti?
— Justiça para a minha irmã.
— Isso não é algo que eu possa lhe dar.
— Então por que você me chamou até aqui?
— Para que você soubesse a verdade. Não só de mim. Dele também.
— Quando? — perguntou ela.
— Amanhã à noite.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1