praia de Netanya, fora comandante de unidade em Palmach, durante a
primeira batalha da infindável guerra de Israel. A sua juventude fora-lhe
roubada. E por sua vez roubou a de Gabriel.
— Eu ofereci-me para ir a Viena, mas Lev nem quer ouvir falar
nisso. Ele sabe que por causa da nossa lamentável história, eu sou uma
espécie de pária. Ele considera que a Staatspolizei será mais acessível se
formos representados por uma figura menos polarizadora.
— Então sua solução é enviar-me a mim?
— Claro que sem competência oficial.
Ultimamente Shamron fazia quase tudo sem competência oficial.
— Mas eu sentir-me-ia muito mais seguro se alguém da minha
confiança estivesse a tomar conta das coisas.
— Temos pessoal do Escritório em Viena.
— Sim, mas eles prestam contas a Lev.
— Ele é o chefe.
Shamron fechou os olhos, como se à cabeça lhe tivesse vindo algo
doloroso. Lev tem muitos outros problemas de momento para dispensar a
atenção que este assunto merece. O novo imperador em Damasco anda a
levantar ondas. Os muçulmanos do Irão estão a tentar construir a bomba de
Alá, e o Hamas anda a transformar crianças em bombas e a detoná-las nas
ruas de Tel Aviv e Jerusalém. Um pequeno atentado em Viena não vai
receber a atenção que merece, mesmo que o alvo tenha sido Eli Lavon.
Shamron fixou Gabriel com compaixão sobre o rebordo da sua xícara de
café.
— Eu sei que não desejas voltar a Viena, principalmente depois de
mais um atentado, mas o teu amigo está a lutar pela vida num hospital
vienense! Pensei que gostarias de saber quem o pôs lá.
Gabriel pensou no retábulo de Bellini da Igreja de San Giovanni
Crisóstomo e sentiu-o escapar-lhe das mãos. Chiara voltou-se de costas
para Shamron e fixou-o intensamente. Gabriel desviou o seu olhar.
— Se for a Viena — disse calmamente —, vou precisar de uma
identidade. Shamron encolheu os ombros, como quem diz que há maneiras
e maneiras óbvias, meu querido — de dar a volta a um problema tão
pequeno como o disfarce. Gabriel já esperava esta resposta de Shamron e
estendeu a sua mão.
Shamron abriu a sua pasta e entregou-lhe um envelope de papel
pardo. Gabriel abriu-o e despejou o conteúdo na mesa de café: bilhetes de
avião, uma carteira em pele, um passaporte israelense bastante viajado.
Abriu o passaporte e viu o seu próprio rosto a olhar para ele. O seu nome
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1