Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

rosário de contas pretas . E em cima de um pedestal uma televisão aos pés
da cama. Gabriel arrastou o seu dedo com luva pela tela e deixou uma linha
negra marcada no pó.
Não havia armário, apenas um grande roupeiro estilo eduardino.
Gabriel abriu a porta e vasculhou com a lanterna pelo interior: pilhas de
camisolas bem dobradas, casacos, camisas de colarinho e calças
penduradas no varão. Abriu uma gaveta. Dentro estava uma caixa de joias
forrada de feltro: botões de punho baços, anéis de sinete, um relógio antigo
com uma correia de couro rachada. Virou o relógio e examinou a parte de
trás: Para Erich, em adoração, Mônica. Apanhou um dos anéis, um grosso
sinete de ouro adornado com uma águia. Também este estava gravado, em
letras minúsculas que percorriam o interior do anel: 1005, bom trabalho,
Heinrich. Gabriel guardou o relógio e o anel no bolso. Saiu do quarto e
parou na entrada. Uma espreitadela pela janela mostrou que não havia
movimento na estrada. Entrou no segundo quarto. O ar estava carregado
com o inconfundível cheiro a essência de rosas e lavanda. Um pálido tapete
macio cobria o chão; uma florida colcha edredão cobria a cama. O armário
eduardino era idêntico ao do primeiro quarto, com exceção das portas que
tinham espelhos. Dentro, Gabriel encontrou roupas de mulher. Renate
Hoffmann tinha-lhe dito que Vogel era um eterno solteiro. Então a quem
pertenciam aquelas roupas?
Gabriel dirigiu-se à mesa de apoio. Uma grande bíblia encadernada
em pele estava sobre um lenço de renda. Pegou-lhe pela lombada e
desfolhou vigorosamente. Uma fotografia flutuou até o chão. Gabriel
examinou-a com a luz da lanterna. Mostrava uma mulher, um rapaz
adolescente e um homem de meia-idade, sentados num cobertor num
prado alpino no Verão. Estavam todos a sorrir para a câmara. A mulher
tinha o braço por cima do ombro do homem. Apesar de ter sido tirada há
trinta ou quarenta anos, era claro que o homem era Ludwig Vogel. E a
mulher? Para Erich, em adoração, Mônica. O rapaz, bonito e bem arranjado,
parecia-lhe estranhamente familiar. Ouviu um som vindo de fora, um ruído
abafado, e apressou-se até a janela. Afastou as cortinas e viu um par de
faróis aproximando-se lentamente por entre as árvores.


GABRIEL GUARDOU A foto no bolso e apressou-se a descer a
escada. A sala grande já estava iluminada pelos faróis do veículo. Arrepiou
caminho — através da cozinha, despensa e pela escada das traseiras abaixo
— até que chegou novamente ao vestíbulo. Conseguia ouvir passos no
andar de cima; alguém estava na casa. Abriu suavemente a porta e deslizou

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