Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Já estive em Viena — disse ela. — Não me agrada.
Ele dispensou um momento examinando-lhe o rosto.
— É italiana?
— Tem meu passaporte na mão.
— Não estou falando de seu passaporte. Estou falando de sua etnia.
Seu sangue. Descendência italiana ou imigrante do, digamos, Oriente Médio
ou Norte de África?
— Sou italiana — assegurou ela.
O segundo guarda saiu da van e abanou a cabeça. O interrogador
devolveu-lhe o passaporte.
— Peço desculpas pelo atraso — disse ele. — Tenha uma boa
viagem.
Chiara sentou-se ao volante, engatou a marcha e passou a fronteira
devagar. Desatou em lágrimas, lágrimas de alívio, lágrimas de raiva. No
início tentou impedi-las, mas não conseguiu. A estrada ficou desfocada, as
luzes traseiras transformaram-se em riscos vermelhos, e mesmo assim elas
vieram.
— Por você, Irene — disse ela em voz alta. — Fiz isso por você.


A ESTAÇÃO DE trem de Mikulov fica no fim da cidade velha, onde as
colinas encontram a planície. Há uma única plataforma, que suporta um
quase constante ataque do vento que desliza pelos Cárpatos, e um
melancólico estacionamento de gravilha, que se transforma num lago
quando chove. Perto da bilheteira está uma parada de ônibus riscada de
graffitis, e era ai, encostado ao lado de onde vem o vento, que Gabriel
esperava, mãos mergulhadas nos bolsos do casaco impermeável.
Levantou o olhar quando a van entrou no estacionamento e
esmagou a gravilha. Esperou até que parasse antes de sair da parada de
ônibus para a chuva. Chiara esticou-se e abriu-lhe a porta. Quando a luz de
teto se acendeu, ele viu que o seu rosto estava molhado.
— Estás bem?
— Estou ótima.
— Queres que eu conduza?
— Não, eu consigo.
— Tem certeza?
— Entra, Gabriel. Não suporto estar sozinha com ele.
Ele entrou e fechou a porta. Chiara deu meia volta e regressou à
autoestrada. Um momento mais tarde estavam a ir para norte, para os

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