Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

QUARENTA E DOIS


Depois de levar Graça a casa, Zé sentou-se no carro, encostou-se no banco e fechou os olhos
durante muito tempo, a pensar. Até agora não admitira nunca a hipótese de isto acontecer. No
seu íntimo, Zé achara sempre que eles estavam a viver uma crise que, mais tarde ou mais cedo,
haveria de passar. Hoje, pela primeira vez, ouvira Graça dizer-lhe um não definitivo. Já não se
tratava apenas de um acidente de percurso que invocassem como uma lição de vida quando
fossem velhinhos. Era o fim do percurso, não chegariam a velhos juntos e Zé teria de começar a
mentalizar-se para essa realidade e aceitá-la.
Enfiou a chave na ignição, pôs o carro a trabalhar e ligou o telemóvel distraidamente.
Desligara-o antes de entrar no restaurante para que não fosse incomodado durante o jantar.
Havia uma mensagem de voz de Tó a perguntar-lhe se estava chateado com ele. «Merda», disse,
a falar sozinho. Esquecera-se completamente de Tó e não respondera à primeira mensagem do
amigo. Ligar-lhe-ia de manhã.
A segunda mensagem era de Sara. Queria saber se Zé já pensara na conversa do outro dia e se
já tinha uma resposta para a proposta dela. Também ficaria para o dia seguinte.
Naquela noite Zé só queria embebedar-se. Não queria pensar em mais nada.
Entrou no Elefante Branco e furou por entre as pessoas com os olhos atentos a vasculharem a
multidão. Chegou à zona da pista, onde pediu um uísque puro ao empregado, mas recusou uma
mesa. Bebeu-o de um trago, perante o espanto do empregado, e pediu outro. O objectivo era
ficar com a cabeça vazia e não conseguir pensar no motivo triste que o levava a embebedar-se.
Finalmente localizou Regina e foi ao seu encontro.
— Ôi, beleza — disse ela, satisfeita por o ver —, por aqui outra vez?
— É — disse Zé, com alguma amargura —, parece que já sou cliente habitual.
— Vamos sentar? — perguntou ela.
— Vamos.
O plano inicial consistia em divertir-se com Regina para se distrair enquanto dava conta de
uma garrafa, mas o uísque desatou-lhe a língua e Zé acabou a contar-lhe a sua vida toda. Saiu-
lhe caro o desabafo, porque Regina estava ali para ganhar dinheiro e, com sexo ou sem sexo, Zé
teve de pagar.
— Faz de conta que é sexo oral — disse Zé, a rir-se. Quando bebia demais, tinha tendência
para se rir por tudo e por nada.
Regina, guardou as notas na sua carteirinha. Carteirinha de puta , pensou Zé, e soltou uma
gargalhada estridente.
— Que foi? — perguntou Regina, com um sorriso desconfiado.
— Nada — disse Zé, lutando ingloriamente contra o riso.
— Então — disse ela, quando ele acabou de se rir e voltou à melancolia que o trouxera ali —

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