Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

Zé entendeu o aviso.
— O dinheiro do... do... sei lá, se calhar não foste tu.
Sara revirou os olhos, sem paciência para aquilo.
— Olhe — disse ela a Regina —, você trouxe-o, agora trate dele, se quiser. Leve-o, durma
com ele, faça como entender, que eu cá vou-me embora. Não tenho paciência para estas merdas.
Adeusinho.
— Adeus, Sara — despediu-se Zé, pendurado num sorriso obtuso.
Regina levou-o para casa, subiu as escadas quase com ele às costas, tirou-lhe a chave para
abrir a porta, ajudou-o a despir-se e deitou-o. E em seguida saiu sem Zé dar por isso. Deixou-o
a dormir profundamente e ele só acordou doze horas mais tarde, sem se lembrar de nada.
Zé passou o sábado com uma ressaca descomunal, maldisposto e a vomitar. Bebeu litros de
água para combater a desidratação e não conseguiu fazer nada para além de ficar sentado a
vegetar na sala, deprimido, a pensar em Graça.
Eram seis da tarde quando olhou para o relógio e se lembrou de Sara.
— Sara! — gritou, com os olhos muito abertos. Pôs-se de pé num pulo e começou a andar às
voltas pela sala, aflito. Merda, merda, merda. Agora é que fizeste merda a sério, Zé.
Subitamente, veio-lhe tudo à memória: Sara encostada ao carro, ele de braço dado com
Regina, os disparates todos que lhe disse. Foi invadido por uma náusea e correu para a casa de
banho.
Lavou a cara, tão pálida que teve dificuldade em reconhecer-se ao espelho, e voltou para a
sala. Deixou-se cair no sofá, a abanar a cabeça, desconsolado.
Sara viera ter com ele porque estava feliz e impaciente. Queria ouvi-lo dizer que sim, que
concordava com a proposta dela de viverem juntos. Zé recordou então a conversa que havia tido
com ela sobre o assunto, dias antes ali, naquela mesma sala. Recapitulou-a frase por frase, a
tremer de ansiedade:
— Zé — confessou Sara —, estou apaixonada por ti.
— Estás o quê?
— A-pai-xo-na-da-por-ti — repetiu, sílaba por sílaba, não fosse ele não entender bem a
mensagem.
Zé riu-se, de nervoso.
— Essa é nova — disse.
— É só isso que tens a dizer? — ofendeu-se Sara.
— Não. — Levantou as mãos, num gesto apaziguador. — É só que apanhaste-me de surpresa.
— Não estás feliz? — perguntou-lhe, inquieta.
— É claro que estou, Sara, mas, eu... não estava à espera... — Esfregou a cabeça com a mão e
olhou para o lado, tornando clara a sua desorientação.
— Pronto, Zé, esquece — atirou-lhe ela, furiosa. — Eu não disse nada, não te preocupes.
— Não, ouve...
— Não te preocupes, já disse! — gritou, zangada.
Caiu um silêncio pesado na sala. Sara sentou-se devagar num banco de pele, com uma perna
para cada lado, os ombros abatidos e a cabeça baixa, a olhar para o chão.

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