Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

calças antes dos sapatos, ficando preso pelos tornozelos. Atirou as calças, a camisa e tudo o
resto para o chão. Não se perdeu em beijos ou em explorações demoradas porque quis estar
dentro dela para poder pensar na rapariga do ginásio, como se aquilo fosse uma pequena
vingança.
Só quando chegou a casa é que se interrogou sobre o assunto. Poderia ter recorrido a Graça
para restaurar o seu orgulho de macho. A sua falta de iniciativa com a rapariga do ginásio havia
sido imperdoável, não o podia negar, e o pior era saber que provavelmente iria encontrá-la
muitas mais vezes e teria um comportamento tão lamentavelmente cobarde como o de hoje.
— Dia difícil? — perguntou Graça.
— Se foi — reconheceu, deixando-se cair pesadamente no sofá e a pensar que poderia ter
vindo mais cedo para casa, se não tivesse corrido para a cama de Cátia para recuperar um
pouco da autoconfiança perdida. O mais irónico da situação era ele ter-se inscrito no ginásio
com o objectivo de se sentir melhor consigo próprio e mais confiante. Não passara no primeiro
teste, claro está que não. Mas porque escolhera Cátia e não Graça?
Havia várias respostas possíveis para esta pergunta. A primeira era que Zé não queria
envolver Graça num assunto tão mesquinho. Fazer amor com a mulher para se lavar do fiasco de
uma abordagem abortada a uma desconhecida? Francamente! A segunda era que Zé não se podia
dar ao luxo de misturar os seus dois mundos. Graça era a sua mulher, Cátia era... Cátia ainda
não tinha uma designação definitiva. E a rapariga do ginásio, pelos vistos, não era coisa
nenhuma. Mas o que era uma certeza é que, na cabeça de Zé, Graça pertencia ao sector familiar
e as outras duas ao sector recreativo. E como os sectores tinham de permanecer
obrigatoriamente estanques, Zé não podia começar a misturar tudo, nem que fosse só em
pensamento.
— O Quico?
— Está a dormir.
— Ah, já?
— Já viste as horas?
Zé olhou para o relógio. Onze e um quarto.
— Pois, claro — disse, sem se alongar em explicações. A sobrecarga de trabalho, as horas
extraordinárias e essas coisas, estavam implicitamente na origem do seu atraso.
— Queres comer alguma coisa?
— Até comia.
— Então, eu já te arranjo.
— Obrigado, querida.
— O que é que fizeste à tua gravata?
— Hã?... — Zé olhou para o peito. Merda, a gravata! — Esqueci-me dela no ginásio.
— Esqueceste-te dela?
— Sim — disse. — Deixei-a no balneário.

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