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O comandante da TAP, um bonitão bronzeado e insinuante, riu-se das
recomendações nervosas de Laurinda para que tratasse bem da amiga. Ela foi
tão insistente que Regina se sentiu como uma criança a viajar
desacompanhada. O comandante disse a Laurinda para ficar tranquila, porque
a amiga ia viajar em primeira, aliás, pode viajar onde lhe apetecer, temos um
747 vazio às suas ordens.
Separaram-se na zona das partidas. Antes, abraçaram-se as duas,
longamente. Laurinda parecia mais desorientada que Regina, posto que ficava
ali sozinha, com o coração nas mãos, sem nada poder fazer senão esperar. Era
a mesma sensação de impotência que Regina sentira. Obrigou-a a prometer-
lhe que teria cuidado e que lhe telefonaria regularmente, para que a pudesse
ajudar em caso de necessidade. Depois o comandante levou Regina por uma
porta só para pessoal autorizado e ela ficou para trás, a pensar na loucura que
era aquilo tudo.
— A Laurinda, às vezes, preocupa-se demais — desabafou Regina,
embaraçada, quando ficou a sós com o cavaleiro andante no seu belo
uniforme. Ele soltou uma gargalhada diletante e não deu importância
nenhuma ao assunto. Caminhavam ao longo de um corredor interno.
Desceram uma escada de dois lanços, passaram a porta automática que dava
para o exterior e em três passos estavam no autocarro onde o resto da
tripulação já os aguardava. Subiram a escada metálica do avião a correr para
fugirem à tempestade e aos golpes de vento que viravam os chapéus-de-chuva
ao contrário, inutilizando-os com uma facilidade assombrosa. Ao entrarem no
avião, enquanto sacudiam a água das gabardinas, o comandante convidou-a a
fazer a descolagem na cabina de pilotagem. Foi uma simpatia dele e Regina
aceitou, naturalmente, mas depois revelou-se uma experiência que teria
dispensado de boa vontade, se soubesse o que a esperava.
— Chovem cães e gatos — comentou o comandante para o seu co-piloto,
no momento em que o avião começou a rolar no início da pista.
— Pois chovem — disse o outro. — Vai ser uma descolagem interessante.
— Bah , abana mas não cai.
Atrás deles, o engenheiro de voo esboçou um sorriso desconcertado e
meneou a cabeça, meio divertido com a conversa. E Regina, de olhos
arregalados, encolhida no seu canto, ficou sem perceber se aqueles três
estavam a tentar impressioná-la ou se nem sequer se lembraram de que ela ia