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O jipe imobilizou-se numa rua de moradias ricas, junto ao cinema Miramar,
na zona alta, onde a vista panorâmica abarcava a Cidade Baixa, a baía e a Ilha
de Luanda.
— É aqui — disse Regina, reconhecendo a casa. Estivera ali uma vez com
Nuno e, embora tivesse aguardado no carro enquanto ele lá ia, entrada por
saída, lembrava-se perfeitamente.
— Achas boa ideia ir bater à porta? — perguntou Patrício, de cenho
franzido, preocupado com o rumo daquela busca inútil.
— Tens melhor ideia? Ele abanou a cabeça, desconsolado.
— Então?
— Okay , mana — encolheu os ombros. — Vamos lá.
Saíram do carro, aproximaram-se do portão do jardim que ladeava a casa,
tocaram à campainha exterior. Esperaram um minuto, sem resposta.
— Não está ninguém — murmurou Patrício, assombrado. — Voltamos mais
tarde?
Regina nem lhe respondeu. Olhou em redor, a rua deserta, mergulhada num
silêncio sinistro, transmitia uma sensação inquietante. Regina enfiou a mão
por entre as grades e experimentou a fechadura. Não estava trancada. Abriu o
portão, entrou, atravessou o jardim estreito, subiu os degraus que conduziam à
porta da frente, bateu. Patrício seguiu-a, a pensar que gostaria de ter metade
da coragem dela. De facto, não se tratava tanto de coragem, mas de desespero.
Regina atingira um ponto em que se sentia disposta a qualquer coisa para
descobrir o paradeiro de Nuno. Ela nunca imaginara o que era capaz de fazer
numa situação extrema, mas agora só pensava que tinha de encontrar Nuno,
desse lá por onde desse, e já dizia a si própria que, se tivesse de matar alguém
para o libertar, fá-lo-ia sem hesitar. Bom, na realidade, não sabia se seria
mesmo capaz de matar uma pessoa, mas que estava num processo de
mentalização para o caso de ser necessário, lá isso estava.
Como voltou a não obter resposta, Regina encostou o rosto ao vidro da
janela panorâmica que se estendia ao longo de uma varanda fechada, ao lado
da porta, colocou as mãos em concha para evitar os reflexos e espreitou