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O soldado abriu a porta do gabinete com um dá licença, meu capitão? e,
sem esperar pela resposta, afastou-se para deixar entrar Regina. Era um
gabinete austero, interior, sem janelas, mais parecia uma cela onde se pusera a
mesa de trabalho, as cadeiras e o armário de metal. Antero deu um salto na
cadeira e veio lá de trás da secretária espantar-se imenso com a presença dela
em Luanda.
— Não imaginas a minha surpresa quando recebi o recado de que estavas
cá — confessou. — Não sabia que tinhas voltado. Senta-te, senta-te. — Ela
sentou-se, a dizer voltei ontem.
— Mas a independência é daqui a nove dias! — lembrou-lhe o óbvio. — O
que é que vieste cá fazer?
— Vim à procura do Nuno.
— À procura do Nuno? — voltou a espantar-se, ficando momentaneamente
suspenso, antes de se sentar.
— Ele desapareceu, Antero.
— Desapareceu?! — exclamou, acentuando a surpresa deixando-se cair
pesadamente na cadeira. — Desapareceu, como?
Regina respirou fundo, ganhou fôlego.
— Foi raptado.
— O quê?!
— Nem sei se não está morto — disse, e este desabafo soou-lhe tão brutal
que os olhos dela inundaram-se logo e duas lágrimas correram-lhe pela cara
abaixo.
Antero olhou para Regina, sem reacção, e, estranhando o desespero dela, a
sua expressão aflita, reparou que parecia uma menina perdida, bem longe da
imagem de mulher determinada que tinha dela. E, de certo modo, esse
pensamento reconfortou-o, ofereceu-lhe uma segurança, uma vantagem
agradável, que não era nada habitual sentir na sua presença. Regina não
costumava ser propriamente simpática com ele, e só o facto de ser uma pessoa
de ideias firmes, de não se coibir de dizer o que pensava, deixava-o de pé
atrás, para não dizer mesmo que o deixava em sentido. Ele não iria tão longe,