menos a questão das armas; Antero fingiu que não sabia de nada e escondeu-
lhe que avisara Nuno sobre a questão das armas. A certa altura, ela agarrou-se
a ele desesperada, aninhou-se nos seus braços, deixou-o sentir o calor do seu
corpo, o perfume do seu cabelo, permitiu que ele lhe limpasse as lágrimas
com um dedo trémulo e lhe beijasse a testa uma e outra vez. Chorou,
implorou-lhe que a ajudasse. Antero, inebriado, febril, não cabia em si de
prazer e imaginou que, se Nuno nunca mais aparecesse, ele teria uma chance
com Regina, desde que fizesse as coisas bem feitas. Garantiu-lhe que não
descansaria enquanto não apurasse o que acontecera, prometeu-lhe que iria
investigar o caso a fundo, até às últimas consequências. Usaria todas as suas
influências e, desse lá por onde desse, não se iriam de Luanda sem Nuno.
Combinaram manter-se em contacto, até porque Antero disse que ia já fazer
as primeiras diligências e, estava convencido, ainda hoje teria notícias para
ela. Despediu-se de Regina, força, rapariga, que isto resolve-se, levou-a à
porta, sentou-se à secretária, cofiou a barba e sorriu, a pensar que a mulher do
seu amigo Nuno era cá um pedaço.
Regina saiu da Fortaleza moderadamente animada. Talvez tivesse ali um
aliado, embora, querendo ser realista e não ir atrás do engano, sublinhasse
para si o talvez. Antero não era de confiança, definitivamente. Meteu-se no
carro e fez uma pausa antes de pôr o motor a trabalhar, vasculhando na
memória uma nota falsa na voz dele, alguma discrepância no seu discurso.
Ficou ali a pisar e repisar cada minuto que estivera com ele, até se convencer
de que a atitude de Antero não batia certo. Ele está a esconder-me qualquer
coisa, cabrão!
Começara bem, sim, gerira bem a conversa com Antero, mas depois tivera
um deslize. Quando ele se aproximou dela e lhe afagou o ombro, Regina
gelou, não se conteve, deitou um olhar hostil àquela mão abusadora. Estúpida,
pensou, vexara-o. Mais uma vez. Antero recuou, tentando disfarçar o
embaraço, encostou-se à secretária e cruzou os braços sem saber o que fazer
às mãos. Regina deixou passar o momento e, dali a pouco, tentou corrigir o
erro. Usou todos os seus argumentos de fêmea para lhe quebrar as defesas,
para o conquistar. Ela conhecia as debilidades de Antero, a sua incapacidade
para se impor, a sua autoridade frouxa, o seu ressentimento por as pessoas,
mesmo aquelas sob as suas ordens, terem tendência para não o levar muito a
sério. Ninguém o temia e ninguém tinha grande consideração pelas suas
opiniões. Isso enfurecia-o, tornava-o imprevisível, vingativo. Mas, se a