O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

deixado Nuno sozinho com o saco. Correu, assustado por um mau presságio,
cheio de medo, voou, desesperado, a imaginar horrores, a pensar nas
consequências se perdesse a droga. O que é que ele estava a pensar quando se
permitiu perder Nuno de vista, perguntou-se, já disposto a matá-lo ali mesmo
no meio do café, em frente de vinte ou cinquenta testemunhas, tanto se lhe
dava, desde que recuperasse o saco.


Nuno abriu a porta que dava para a rua de trás, saiu. Atravessou a estrada
estreita, mergulhada na sombra centenária dos velhos prédios pombalinos da
Baixa, acercou-se da sua mota, estacionada desde essa manhã em cima do
passeio da frente. Montou a Harley , pôs o motor a trabalhar e respirou de
alívio ao ouvi-lo ronronar à primeira tentativa.


Atrás dele, o fornecedor emergiu do interior do café e deu uma corrida para
o agarrar, ao mesmo tempo que Nuno rodava o punho do acelerador e a moto
dava um salto para a frente, ganhando velocidade instantânea e escapando por
centímetros ao perseguidor que já lhe deitava a mão às costas. Este, num
instante acreditou que o apanhara, no outro percebeu que não, mas continuou
a correr ao longo da rua, embalado pela raiva e a gritar filho-da-puta, estás
feito comigo, cabrão, eu mato-te! Eu maaatooo-teee!!!


Nuno afastou-se a grande velocidade e, sem se voltar no banco, ergueu a
mão esquerda e esticou o dedo médio para o céu. E o fornecedor pensou quem
está morto sou eu, se não o apanhar.

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