Um Homem Escandaloso

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Cristiane virou-se para João Pedro e percebeu que ele também tinha reparado em Carol e estava a
sorrir para ela. Carol parou de fotografar, baixou a câmara, devolveu-lhe o sorriso, piscou-lhe o olho
em sinal de grande cumplicidade, recomeçou a tirar-lhe fotografias. E Cristiane viu tudo.
Mais tarde, quando a agitação inicial esmoreceu e os fotógrafos começaram a retirar-se,
permitindo que ficassem mais à vontade, Carol aproximou-se deles com a máquina a tiracolo e
cumprimentou-os.
— Os quadros são fabulosos! — elogiou, um bocadinho entusiasmada demais, na opinião de
Cristiane.
— Gostaste? — perguntou João Pedro, muito satisfeito.
— Adorei — respondeu.
— Obrigado.
— E tu estás um espanto em todos, o João Pedro acertou em cheio na modelo — disse a Cristiane.
Falaram ainda do Brasil, trocaram umas impressões vagas sobre o que tinham feito após a noite em
que se conheceram, depois alguém os interrompeu e Carol afastou-se. Cristiane fingiu que seguia uma
conversa entre João Pedro e um coleccionador interessado que André lhe apresentava, enquanto
vigiava Carol ao longe, a tirar fotografias aos convidados. Notou que era a única que continuava a
fotografar, porque todos os outros que há pouco os cercavam com uma máquina nas mãos se tinham
eclipsado.
Esperou até ter oportunidade de confrontar João Pedro.
— Como é que ela veio aqui parar? — perguntou-lhe.
— Quem?
— A Carol.
— O André contratou-a. Ela costuma fazer estes trabalhos. Não é curioso, encontrá-la aqui?
— É, o mundo é muito pequeno — comentou Cristiane, e ele fingiu que não tinha reparado no
amargo sarcasmo contido na voz dela.


Podia ser uma coincidência, de facto, Carol estava ali a trabalhar, era o que ela fazia, não havia
nada de estranho em encontrá-la num evento como aquele. Até era possível que já se tivesse cruzado
com Carol noutras ocasiões semelhantes e não tivesse reparado nela por ainda não a conhecer. Tudo
isto era perfeitamente razoável, pois, e eu sou tão tapadinha que não vejo o que se passa à minha
frente
, pensou Cristiane, desconfiada. Não, ela não engolia coincidências, nem explicações
razoáveis, quando um alarme lhe soava no cérebro avisando-a de que havia algo de errado. O
instinto falava mais alto, não lhe dava descanso.
Entretanto, João Pedro resolveu fazer um discurso imprevisto, ergueu as mãos para chamar a
atenção do público e começou a falar com exuberância. André não estava a acreditar no que via, só

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