escolhas e essa condição racional do ser humano complica tudo. Ele nunca pensou se teria de
escolher entre Cristiane e Carol. Optar por uma das duas é algo que não está no seu horizonte. Ele
desresponsabilizou-se das suas próprias acções, não sente que tenha de responder por elas porque
acredita que não está nas suas mãos controlar o futuro que lhe está destinado — ou seja, aquele que
sonhou. Podemos questionar se porventura o sonho — a que João Pedro chama destino — fosse um
pesadelo, ele o teria acatado com a mesma facilidade, sem se interrogar sobre a sanidade mental de
alguém com semelhante comportamento. Mas o sonho não foi um pesadelo, foi um conjunto de coisas
boas, pois encerrava em si o sucesso profissional e duas mulheres bonitas. E de facto, graças a esse
sonho, João Pedro está, realmente, a experimentar o sucesso e já conquistou as duas mulheres
bonitas. Mas enquanto um sonho está isento de problemas, a realidade é bem mais complicada
porque se vai desenrolando entre dificuldades e conflitos quotidianos que têm, necessariamente, de
ser geridos. As incontornáveis escolhas. O problema que João Pedro tem pela frente é que, desde que
mergulhou na fantasia de viver o seu sonho como se fosse uma realidade paralela, ficou confinado a
um espaço temporal limitado. Para ele, a sua vida é agora, como se estivesse encerrado num belo
quadro, uma só imagem, onde se vê abraçado a Cristiane e a Carol, na companhia de um André
eufórico a confirmar o êxito estrondoso do seu trabalho e, a um canto, Clara, derrotada e ressentida.
Com efeito, nesse peculiar processo espiritual, João Pedro conseguiu exorcizar o fantasma da
mulher que o abandonara e seguir em frente triunfalmente, sem pensar mais nela. Porém, não
ponderou o que fará depois de cumpridos todos os pressupostos contidos no quadro que tem em
mente, não tem presente que há mais vida depois do sonho. Mas também não será neste momento, em
que rebola pelo chão abraçado a Carol, que vai preocupar-se com esse assunto.
Carol ajoelhou-se à frente de João Pedro, abriu-lhe o fecho das calças, fê-las cair até aos
tornozelos, puxou-lhe os boxers com um golpe resoluto. Ele engoliu em seco, mas manteve-se firme,
de pé, com as mãos na cabeça dela, observando o que ela lhe fazia do alto dos seus quase dois
metros, como um espectador extasiado. Carol empenhou-se em dar-lhe prazer com o intuito de o
conquistar definitivamente. Não queria falhar, desejava fazer deste primeiro encontro um momento
inesquecível para João Pedro e, assim, conseguir que ele se apaixonasse por ela. É evidente que ela
sabia que um homem não se cativava pela facilidade, mas pelos impedimentos regrados que a mulher
lhe impusesse, de modo a levá-lo a percorrer uma lenta e deliciosa via-sacra, com a esperança de a
ter plenamente no final desse sofrido caminho. Porém, Carol era uma mulher segura dos seus
predicados e, por vezes, a confiança excessiva levava-a a seguir o seu instinto sem se acautelar e
saltar etapas como uma leoa determinada. Ela acreditava que era capaz de enfeitiçá-lo com a visão
do seu corpo nu e a sua habilidade na arte de amar. E, de facto, para o resto da vida, João Pedro
haveria de recordar este momento com a nostalgia de um dia único. Embora voltasse a espantar-se
com a nudez perfeita de Carol muitas outras vezes nessa época feliz, na sua memória de velho
perduraria a poesia romântica do corpo sem mácula que os olhos de João Pedro descobriram quando
a despiu naquela tarde, debaixo das luzes quentes do estúdio de fotografia. E note-se que Carol já
ultrapassara há muito os trinta anos na altura em que ele a conheceu. Fazia trinta e cinco nesse ano,
mais exactamente.
Nunca saberemos se o corpo dela era realmente de uma beleza celestial ou se essa impressão se
devia apenas ao deslumbramento com que os olhos de João Pedro a viram no instante em que acabou
de a despir no chão do estúdio, porque foi um momento inspirador, bem entendido. Mas, exageros à