então era só um passatempo. Primeiro os amigos, depois outros colegas desconhecidos que tinham
ouvido falar dela, começaram a pedir-lhe que fotografasse as suas festas particulares, na maioria dos
casos aniversários, o que ela fazia a troco de um pagamento não muito elevado. Agora, trabalhava
todos os dias menos ao domingo. Durante a semana estava na loja e às sextas e sábados tinha as
festas.
Quando terminou o curso de marketing e publicidade e deixou a universidade, já pusera de lado a
máquina que o pai lhe oferecera, adquirira um equipamento de qualidade bastante superior e estava
lançada no negócio da fotografia. Embora nunca tivesse chegado a exercer a profissão para que
estudara, esta ajudara-a a descobrir expedientes eficazes para prosseguir com a actividade que
decidira desenvolver. E os amigos que fizera nesses anos na universidade revelaram-se uma base
preciosa para continuar a ter trabalhos.
Ao contrário da irmã, que fora viver para junto da aldeia dos pais depois de casar com um rapaz
da região, Carol não regressara. Com vinte e um anos, estava ainda imbuída naquele espírito da
juventude, tão feliz quanto ingénuo, que espicaçava a imaginação e a levava a acreditar que era
possível conquistar o mundo. A vida corria-lhe bem, não precisava de muito dinheiro e ganhava mais
do que gastava. Um século novinho em folha começara em grande festa, a contar do zero, e ninguém
imaginara que a crise económica rebentaria como uma borrasca poucos anos depois. Tudo parecia
fácil. Carol, deslumbrada com a liberdade, pulava de festa em festa, de discoteca em discoteca, de
casamento em casamento, com a máquina fotográfica a tiracolo. Conhecia pessoas e tinha a sensação
de que lhe pagavam para se divertir. Havia noites em que fotografava dois e três eventos. Com o que
poupou, deu entrada para um apartamento pequenino no Chiado, muito bonito e muito caro, com
pormenores de luxo, num edifício acabado de recuperar.
O primeiro Verão depois de acabar o curso foi épico. Um convite providencial para fotografar o
aniversário de uma actriz da telenovela do momento permitiu-lhe entrar no mundo da televisão.
Conheceu outros actores, tornou-se namorada de um deles e, em breve, era considerada a fotógrafa
obrigatória em todas as festas — e se havia festas nesse tempo.
Nunca mais parou.