Um Homem Escandaloso

(Carla ScalaEjcveS) #1

João Pedro acertou em cheio. Se a conhecesse bem, saberia que a provocação era o melhor
expediente para convencer Cristiane. Ela não resistia a um bom desafio e, sobretudo, não tolerava
que lhe dissessem que não podia fazer alguma coisa ou que questionassem as suas capacidades. E
João Pedro estava a revelar-se um desafio permanente. O seu jeito desastroso para seduzir levara-a a
pensar que não se interessava por ela, o que a espicaçava, pois não estava habituada à indiferença de
um homem. Agora, ele sugeria que não tinha coragem para se deixar retratar nua.
Cristiane sentiu um nervoso miudinho. Hesitou. Se fossem horas para isso, abriria uma garrafa de
vinho e beberia o suficiente para se soltar, mas eram nove da manhã! Por outro lado, na noite
anterior, na cama, ficara a pensar em João Pedro e dera consigo húmida de excitação a imaginar
coisas com ele. Adormecera a planear uma forma de lhe dar a volta à cabeça.
De manhã, acordara cedo para tomar banho, perfumar-se e arranjar-se com tempo. Queria
apresentar-se bonita, provocante, irresistível. Dispensara o sutiã porque percebera na véspera que o
perturbara quando o deixara espreitar-lhe o decote da camisa escandalosamente aberto. Estava em
cuecas frente ao espelho do quarto, a apertar o sutiã, quando teve a inspiração: Os homens não
resistem a umas boas mamas,
pensou, dirigindo um sorriso atrevido à sua imagem, e as minhas não
são propriamente pequenas.
Atirou o sutiã para cima da cama. Quero ver se continuas tão
indiferente quando reparares que tenho as meninas à solta!


Ele mantinha-se ali, com aquele ar pedante, à espera que ela se decidisse. A sua expressão parecia
dizer-lhe que ela não passava de uma daquelas mulheres que se faziam mais atrevidas do que eram só
para impressionar. Isso irritou-a. Tu não sabes do que eu sou capaz, pensou.
Na vida real, João Pedro é que era, de longe, o menos atrevido dos dois. Na vida real, João Pedro
nunca teria tido o desplante de lhe sugerir que se despisse. Mas para ele aquilo não era bem a vida
real e, na verdade, não estava a pensar nada do que Cristiane imaginava. João Pedro aguardava,
simplesmente, que ela se despisse para começar a trabalhar. Ele já tinha visto o quadro e sabia que
era um nu. Bem, ele sonhara com o retrato de uma mulher nua e acreditava que essa mulher era
Cristiane e convencera-se de que o sonho se tornara realidade em consequência de algum fenómeno
prodigioso que não conseguia explicar nem lhe interessava. Pronto, era isso, ia pintar Cristiane nua,
não tinha a menor dúvida.


Foi um daqueles momentos que ficariam gravados para sempre na mente de João Pedro. Cristiane
cravou os olhos nos dele, fez a sua melhor expressão lúbrica, a respirar sensualidade, a provocá-lo,
a desejar perturbá-lo. Os dedos hábeis desabotoaram os botões do peito e o vestido deslizou pelo
corpo dela, caiu-lhe aos pés, ficou em cuecas. Sempre a olhar para ele, a estudar-lhe a reacção, deu
um passo ao lado, para fora do centro do vestido e chutou-o para longe com um movimento de pernas
suave e elegante. Em seguida, dobrou-se sem perder o equilíbrio, despiu as cuecas reduzidas de seda
e renda, satisfeita por não ter negligenciado a escolha uma hora antes. As cuecas foram atiradas para
junto do vestido e Cristiane, completamente nua, voltou a apoiar a mão no quadril, na mesma atitude
provocadora.
— Está bem assim, mestre? — perguntou.
Já que a obrigava a despir-se, quis embaraçá-lo, como retaliação. E conseguiu-o, evidentemente.
João Pedro engoliu em seco.

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