em Nova York. Era disparatado, ou não queria mesmo desmarcá-lo? Largou o
telefone em cima da mesa, irritada. Odiava situações embaraçosas, e Filipe
sempre conseguira provocar esse efeito nela, até à distância e depois de tantos
anos sem se verem.
Isabel fizera tudo para o esquecer, arruinara a relação deles, dera-lhe motivos
para não a querer mais, para não confiar mais nela, cortara os laços, afastara-
se e envolvera-se com outro homem. E agora descobria que Filipe estava a
caminho de Nova York e hesitava em demovê-lo. Bem, com ela ou sem ela,
Filipe faria a viagem, tinha o voo marcado, compromissos profissionais,
sessões de autógrafos, conferências. Mas ela não iria, evidentemente, era
impensável. Não se tratava de um simples encontro, de uma brincadeira, ir a
Nova York teria implicações enormes, mudaria a sua vida, e agora ela vivia
com Luís, não podia voltar-lhe as costas e partir. Fizera isso uma vez, a Filipe,
e ele estava dando-lhe uma segunda oportunidade. Seria capaz de ignorá-lo
novamente? Um dia, Filipe dissera-lhe: “se não ficarmos juntos, vamos nos
arrepender disso para o resto da vida”. Naquele momento, Isabel não quisera
ouvi-lo, mas tinha lhe dado razão todos os dias dos últimos oito anos.
A cabeça de Isabel parecia rodopiar, uma angústia tomou conta de si. A vida
corria normalmente até ler a notícia no computador, havia uma rotina, uma
segurança, uma existência confortável, sem sobressaltos. Quando o deixara
não quisera saber mais dele, alheara-se dele sem qualquer peso na
consciência, interessara-se por outro homem, sentia-se feliz com a vida que
levava e tinha deixado o passado para trás. Só os seus livros e a memória
pacífica daqueles dias permaneciam na sua mente. Mas bastara ler aquilo para
sentir uma intranquilidade. Filipe não a esquecera e, obviamente, ele
continuava a não lhe ser indiferente. Pegou o celular, largou-o novamente,
voltou a ler a notícia no computador, teve vontade de dar um grito e sair do
escritório. De qualquer maneira, já não conseguiria trabalhar nesta manhã.