34 • Público • Quinta-feira, 19 de Setembro de 2019
CULTURA
A Porto Design Biennale nasce
contaminada pela actualidade
Uma nova bienal de design para Por-
tugal, numa nova geograÆa — Porto e
Matosinhos — desponta hoje. A Porto
Design Biennale (PDB) nasce assu-
mindo a Post Millennium Tension , o
tema da 1.ª edição, e espraia-se em
eventos e design durante esta semana
inaugural e depois, até Dezembro, no
Grande Porto. Como estão designers
portugueses e estrangeiros a reagir às
transformações do mundo neste ten-
so início do século XXI? Com um
“duplo sentido de actualidade”, diz o
curador-geral José Bártolo ao PÚBLI-
CO, enfrentando as crises climáticas,
dos refugiados ou do “Brexit”, com
design e tentando “contribuir para a
sua resolução.”
Dois anos depois da sua apresen-
tação (que coincidiu circunstancial-
mente com o Ænal da primeira bienal
de design portuguesa, a Experimen-
taDesign), este novo “evento de gran-
de dimensão e ambição”, nas pala-
vras de Bártolo, chega com o forma-
to habitual das bienais: uma semana
inaugural intensa, depois da qual e
até 8 de Dezembro se mantêm as
suas grandes exposições — são oito.
Entretanto também decorrem
workshops, eventos-satélite e até uma
conferência performativa, além da
inauguração, em Outubro, de duas
instalações públicas.
Há um país convidado, a Itália,
sinónimo de cultura de design e dos
seus laços industriais e que será
explorada em três exposições ( Fron-
tiere — Expressões de Design Contem-
porâneo, Abitare Italia— Ícones do
Design Italiano e a retrospectiva Ric-
cardo Dalisi — Imperfeição Perfeita ) e
na conferência Territorio Italia a 24 e
25 de Outubro. Há os três grandes
temas Post Millennium Tension — Pre-
sent Tense , Design and Democracy e
Design Forum, em torno dos quais se
fazem cinco exposições ou a confe-
rência performativa Monstruous
Designs (dias 23 e 24 no Palácio dos
Correios e no Rivoli). Desta galáxia,
Bártolo salienta duas mostras para
responder à pergunta sobre, aÆnal,
que processos têm em comum as
dezenas de designers que estão no
A 1.ª edição da bienal tem como tema Post Millennium Tension e faz-se de diversidade, de Itália,
de cartazes políticos, de millennials a fazer design e dos temas do novo milénio, do “Brexit” ao clima
terreno neste século XXI que a bienal
se propõe analisar.
“[Em] Frontiere e Millennials des-
taca-se sem dúvida um duplo sentido
de actualidade. Há a preocupação de
que o design se confronte com ques-
tões, problemas reais que afectam o
tempo que vivemos; por outro lado,
uma vontade de o design ser muito
actuante no plano social, político,
cultural. As problemáticas que carac-
terizam este início de milénio — as
alterações climáticas, crises migrató-
rias, a instabilidade política como a
que o Reino Unido está a viver com o
‘Brexit’” estão nas exposições ou nas
conferências da PDB, explica o comis-
sário-geral. “E não de uma forma
exterior ao design.” Os designers
investigam e passam à prática, ten-
tando ser parte da solução, explica.
ADRIANO MIRANDA
Frontiere é uma das três exposições dedicadas ao país convidado, Itália
Exemplo à lupa: Frontiere — Expres-
sões de Design Contemporâneo , cuja
inauguração hoje na Casa do Design
de Matosinhos abre oÆcialmente a 1.ª
PDB. Com curadoria de Maria Milano
e Lucio Magri, mostra design contem-
porâneo italiano. No trabalho dos
designers mais jovens há, explica Bár-
tolo, uma lógica de autoprodução que
se alia à tradição da ligação com a
indústria. As crises inÆltram-se na
conversa. “Já não estão tão ligados a
um saber fazer de manufactura. Estão
mais ligados aos aspectos de identi-
dade que os novos tempos trouxe-
ram. Quando os designers trabalham
na integração de migrantes e aprovei-
tam referências, habilidades que os
refugiados trazem [isso] é trabalhar
com algo que está a marcar a actuali-
dade daquela região de Itália, mas
que é novo.”
José Bártolo é também comissário
da exposição Millennials — Design do
Novo Milénio (até 17 de Novembro na
Galeria Municipal do Porto). A mostra
não procura resumir uma geração e
foi voluntariamente contaminada
pela actualidade. ReÇecte “uma diver-
sidade grande de abordagens”, obser-
va Bártolo. A tentação de imaginar
uma provocação por uma crise ou um
populismo na origem de um projecto
é contrariada pelo que se expõe em
Millennials. Os agentes do design do
novo milénio são “orientados por
uma intencionalidade muito clara.
São mais activos do que apenas reac-
tivos”, avisa Bártolo.
A PDB tem a expectativa de atrair
cerca de 100 mil visitantes e, embora
seja um acontecimento de design
internacional, é um marco de design
no calendário nacional. Olha para
dentro, para o espólio de cartazes
artesanais usados em protestos recen-
tes e vindos do arquivo Ephemera de
José Pacheco Pereira, por exemplo,
em Que Força É Essa (Casa da Arqui-
tectura), ou convida outros a olhar
para o que é nosso em Portugal Indus-
trial — Ligações entre o Design e a
Indústria (Artes Mota-Galiza). A PDB
tem um orçamento público de 1,4
milhões de euros vindos das câmaras
de Matosinhos e Porto e cerca de 300
mil euros de apoios privados.
Design
Joana Amaral Cardoso
[email protected]
Há a preocupação
de que o design se
confronte com
problemas reais
que afectam o
tempo que
vivemos
José Bártolo
Comissário-geral da bienal