Público • Quinta-feira, 19 de Setembro de 2019 • 47
“O futebol é brutal,
a escola é essencial”:
ali, só joga quem estuda
Um clube de bairro
transformou uma sala de
arrumos num espaço de
estudo obrigatório para os
jovens jogadores
Reportagem
Diogo Cardoso Oliveira
[email protected]
Teve más notas? Tem de ir à sala de
estudo. Faltou à sala de estudo?
Não treina. Estas duas premissas
dão ao UDR Santa Maria, clube de
Odivelas, na região de Lisboa, o
estatuto de clube pedagógico, sob
o mote “O futebol é brutal, mas a
escola é essencial”. A partir de dia
23, os jovens jogadores do clube só
podem treinar com a equipa caso
vão à sala de estudo criada nas
instalações do clube. Uma sala que
não é limitada aos atletas do
“Santa”. Já lá vamos.
Antes, há um contexto histórico e
social para fazer. O Bairro da
Urmeira é conhecido pelas
condições desfavoráveis, pela
criminalidade e pelo alheamento da
modernização urbanística. Um
artigo do PÚBLICO, em 1999, já
falava do trabalho do clube do
bairro, como “ única colectividade
de um quotidiano marcado pela
marginalidade e delinquência”.
20 anos depois deste artigo, o
PÚBLICO chega ao recinto do Santa
Maria e vê um relvado sintético com
aspecto novo, balneários
modernos, uma bancada
recentemente coberta e, como ex
libris , uma sala de estudo “novinha
em folha”. Com computadores.
Com secretárias. Com cadeiras
confortáveis. Com cadernos. Com
acesso ao programa Escola Virtual.
Com tudo o que uma criança
precisa para um apoio extra nos
estudos e juntar o sucesso escolar
ao futebol.
“Não queremos formar apenas
futebolistas. 90% dos jogadores não
chegam ao futebol proÆssional e a
escola é importante”, diz, ao
PÚBLICO, Francisco Baptista,
presidente do clube, explicando,
ainda, de onde surgiu a ideia.
As regras estão bem deÆnidas:
quem tem negativas na escola tem
de ir à sala de estudo e quem não
vai à sala de estudo não pode ir
treinar com a equipa. Sem mão no
livro não há pé na bola. “A
obrigatoriedade está estipulada
para os alunos do 1.º ciclo e do 5.º e
6.º anos, nomeadamente para os
que tiverem negativas. Podem cá
vir antes ou depois do treino,
partindo do pressuposto de que os
pais aceitam”. E este é um
ponto-chave.
Para os pais que saem do trabalho
ao Ænal da tarde, a sala de estudo do
Santa Maria acaba por funcionar
como um dois em um: apoio
escolar, por um lado, e local seguro
para as crianças, por outro.
“Para os pais, é uma ajuda. Os
miúdos podem cá estar a estudar
ou a fazer trabalhos de grupo. Os
pais preferem que eles Æquem aqui
a estudar do que andem na rua
sozinhos”, justiÆca Francisco
Baptista, que explica a abertura da
iniciativa a todas as crianças do
bairro.
“Depois de tudo isto, pensámos
‘e porque não as crianças do bairro
poderem cá vir? Muitas delas até
vêm para aqui brincar ao Ænal do
dia’. Quando pensámos nisto,
dissemos logo ‘vamos abrir’.
Grande parte destas crianças não
tem em casa estas condições de
trabalho.”
O clube teme uma sobrelotação
do espaço já no primeiro dia. No
bairro, tem-se ouvido uns rumores
de que muitos pais e avós estão
entusiasmados com esta iniciativa e
já se fala de que a sala poderá ser
pequena.
Com ou sem sobrelotação, há
uma garantia deixada pelo UDR
Santa Maria: “Se colocamos a
hipótese de isto ser pago? Nem
pensar. Nem pensámos nisso.
Estamos num bairro complicado e
as condições não são as ideais para
isso.”
Como é que um clube de bairro,
do futebol distrital, consegue, sem
cobrar nada, transformar uma sala
de arrumos, velha e inútil, num
espaço limpo, pintado, com
materiais novos e com tecnologia
moderna? Com ajuda de um
patrocinador que, caso se conÆrme
a forte adesão, já garantiu que
colocará um proÆssional a 100% a
trabalhar com as crianças. Para já,
nos primeiros tempos, o apoio ao
estudo será com ajuda da “prata da
casa”: treinadores e até pais de
alguns atletas.
Se juntarem o sucesso escolar ao
prazer pelo futebol, “Æntando” os
problemas sociais da Urmeira, os
jovens jogadores do Santa Maria
serão heróis. Pelo menos, lá no
bairro.
O objectivo não é
castigá-los, mas
fazer com que
subam as notas (...)
e os pais preferem
que eles Äquem
aqui a estudar do
que andem na rua
Francisco Baptista
Presidente do UDR Santa Maria
Acabou por saber a pouco a presta-
ção de Portugal no Campeonato da
Europa de voleibol. Uma derrota
com a Roménia (3-1), na derradeira
jornada da poule A, disputada na
cidade francesa de Montpellier, aca-
bou por atirar a selecção nacional
para fora dos lugares de apuramento
para os oitavos-de-Ænal. Contas fei-
tas, foi um mero ponto que deitou
tudo a perder.
Num grupo claramente desequili-
brado, com França, Itália e Bulgária
vários furos acima dos restantes
adversários, restava a Portugal, Gré-
cia e Roménia lutarem pela quarta e
última vaga de qualiÆcação para a
fase seguinte. Depois do triunfo na
véspera sobre a equipa helénica, a
selecção portuguesa chegou morali-
zado ao último embate, mas só a
espaços foi capaz de mostrar a sua
melhor versão.
Portugal entrou no jogo pratica-
mente a perder (1-5, depois de falhar
quatro ataques) e já não conseguiu
recuperar, tendo reservado para o
segundo parcial uma resposta mais
condizente com a sua qualidade. Nos
terceiro e quarto sets , porém, um
volume invulgar de erros na recep-
ção e no serviço comprometeu em
deÆnitivo as aspirações portuguesas,
que viram o encontro chegar ao Æm
com 25-21, 19-25, 25-18 e 25-23.
No Ænal, Grécia, Portugal e Romé-
nia terminaram a fase de grupos com
três pontos cada um, todos com cin-
co sets ganhos e 13 perdidos, pelo
que foi necessário recorrer à diferen-
ça de pontos para desempatar. Neste
parâmetro, sobressaiu a selecção
helénica, com 386 a favor e 432 con-
tra, enquanto a equipa nacional ter-
minou com 386 e 433.
“Desporto é isto. Por um ponto
Æca-se fora de um apuramento... Por
um ponto Æcámos fora do Europeu
e isso vai marcar-nos a todos. Ao não
conseguirmos o objectivo ambicioso
que trouxemos [apuramento para os
oitavos-de-Ænal], passámos ao lado
do Campeonato da Europa”, lamen-
tou o seleccionador, Hugo Silva, cita-
do pelo site da Federação Portugue-
sa de Voleibol. “O que se passou?
Caímos Æsicamente, mas ainda mais
pela força mental”.
Chegou ao fim
a aventura
de Portugal
no Europeu
Voleibol
Nuno Sousa
Sem surpresa, os oitavos-de-Ænal do
Cascais Master, um dos mais impor-
tantes torneios do World Padel Tour
(WPT), terá um duelo entre as
melhores padelistas portuguesas. No
court instalado nos jardins do Casino
do Estoril, SoÆa Araújo e a argentina
Virginia Riera afastaram Angela Caro
e Nuria Rovira, enquanto Ana Cata-
rina Nogueira, com a espanhola Pau-
la Josemaría, deixou pelo caminho
as portuguesas Patrícia Ribeiro e
Margarida Fernandes. Miguel Olivei-
ra voltou a surpreender e também se
qualiÆcou para os “oitavos”.
SoÆa Araújo, actual n.º 30 do WPT,
não teve diÆculdades e bateu Caro e
Rovira, uma dupla espanhola apura-
da via qualifying , em dois sets , com
os parciais de 6-4 e 6-1.
Na partida seguinte, no primeiro
jogo no WPT após vencer o Madrid
Master, Ana Catarina Nogueira
defrontou Patrícia Ribeiro e Marga-
rida Fernandes e conÆrmou o favo-
ritismo. Contra as actuais n.º 3 e n.º
4 do ranking português, Nogueira e
Josemaría venceram por 6-2 e 6-3.
Nos “oitavos”, agendados para hoje
(14h), haverá um duelo entre Noguei-
ra/Josemaría e Araújo/Riera.
Diana Silva (n.º 113 do WPT) e Kátia
Rodrigues (n.º 299) foram afastadas
pelas espanholas Nuria Rodríguez
(n.º 35) e Carmen Goenaga (n.º 48):
6-0 e 6-2.
No quadro masculino, Miguel Oli-
veira alcançou mais um óptimo
resultado. O português (56.º) e o
espanhol Christian Fuster (n.º 59)
afastaram Vásquez (n.º 40) e Antelo
(n.º 37), com os parciais de 6-4, 4-6
e 6-4. Oliveira, que garantiu pela ter-
ceira vez consecutiva um lugar nos
“oitavos” de um torneio do WPT,
terá agora pela frente “apenas” os
dois jogadores que repartem a lide-
rança do ranking mundial: os argen-
tinos “Sanyo” Gutiérrez e Maxi Sán-
chez. O confronto tem o início para
as 13h de hoje.
Araújo
contra
Nogueira
em Cascais
Padel
David Andrade
As melhores jogadoras
portuguesas vão estar
frente a frente. Miguel
Oliveira voltou a apurar-se
para os “oitavos” no WPT
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DESPORTO
Jovens jogadores do UDR Santa Maria durante um treino
DANIEL ROCHA