Público - 19.09.2019

(Ron) #1
6 • Público • Quinta-feira, 19 de Setembro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO


As cartas destinadas a esta secção
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CARTAS AO DIRECTOR


Jorge Sampaio


O ex-Presidente Jorge Sampaio
completou ontem a bonita idade de
80 anos. Salvo o devido respeito, por
todos os ex-Presidentes, e pelo
actual, Marcelo Rebelo de Sousa, o
aniversariante foi, na minha opinião,
um dos melhores Presidentes da
história deste país. Distinto
advogado, não se conÆnou ao
conforto de uma actividade bem-
-sucedida. De maneira de ser
altamente discreta, deixou um
legado muito decisivo para a nossa
democracia.
Tomaz Albuquerque, Lisboa

Estado Novo, só
atrocidades e crimes?

Há dias, o director do PÚBLICO
escreveu um editorial criticando a
decisão do Parlamento de condenar
a criação do chamado museu sobre
Salazar. Referiu, e bem quanto a

mim, que conceituados
historiadores haviam dado garantias
de que um tal museu não seria
nunca uma hagiograÆa dobre o
ditador. E acrescentou que temos
todo o interesse em conhecer todas
as atrocidades cometidas pelo
regime que então vigorou, desde
1926 até 1974. Mas, curiosamente,
não referiu uma única obra, acção
ou aspecto positivo de tão longo
consulado. Estará então na calha um
museu que só consiga expor e
documentar todos os aspectos
negativos da ditadura? Será que se
estão a preparar para anunciar e
explicar aos portugueses que
nasceram depois do 25 de Abril que
a Ponte 25 de Abril foi construída
pelo MFA nesse dia? Que o
torcionário Salazar, psicopata
assassino sem escrúpulos, qual
Estaline em Portugal, mandou matar
todos os críticos do seu regime? Que
esteve por detrás dos guerrilheiros
das colónias para ter uma desculpa

para enviar tropas portuguesas para
os combater? Que nada se fez, se
construiu, se desenvolveu em 46
anos de regime? A esquerda sempre
teve esta queda para reescrever a
história, e eu, que vivi 26 anos no
regime anterior, estou muito curioso
por ainda ver o que vai sair daqui.
Manuel Martins, Monte Gordo

As ditaduras


O nosso país viveu em ditadura
durante 48 anos. Todo o mundo
sabia. Apesar disso, era reconhecido
internacionalmente e era aceite nas
organizações internacionais como a
ONU, NATO, OCDE (Organização
para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico), OIT
(Organização Internacional do
Trabalho), AISS (Associação
Internacional de Segurança Social —
tínhamos a Previdência), etc.. Se,
internacionalmente, então éramos
aceites, não vemos motivos para

que agora, passados tantos anos,
essa parte da nossa história queira
ser apagada por cidadãos nacionais.
É verdade que na altura tínhamos a
censura, uma polícia política e se
combatia o comunismo, mas querer
que os que procuraram resolver a
crise que existia no Ænal da Primeira
República sejam totalmente
ignorados, quando se está a querer
perpetuar os que foram perseguidos
quando lutavam por outra ditadura
de cariz diferente, também não está
bem.
Miguel Oliveira Rodrigues, Lisboa

Os treinadores portugueses continuam a ter
as portas do mercado grego bem abertas e
percebe-se porquê. Pedro Martins é o
expoente máximo da actual representação nacional
na Grécia e ontem conseguiu um empate com sabor
a vitória, diante do vice-campeão europeu. No Pireu,
o Olympiacos travou o Tottenham, recuperando de
uma desvantagem de dois golos e mostrando que
tem de ser levado em conta na matemática do
apuramento do Grupo B. (Pág. 46) N.S.

O substituto de John Bolton é mais discreto
e desconhecido. Trump escolheu para o
cargo de conselheiro de Segurança
Nacional dos EUA um advogado de carreira, crítico
da redução do orçamento militar e especialista em
política externa. Actualmente, Robert C. O’Brien é
enviado especial do Presidente para os assuntos
relacionados com a toma da de reféns. Quanto
tempo aguentará O’Brien como sucessor de
Robert C. O’Brien Bolton? Aceitam-se apostas. (pág. 31 ) A.C.

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Verdades incómodas e meias verdades


E


m frentes diversas, o bispo do
Porto e o reitor da Universidade
de Coimbra tornaram-se
anteontem o centro da polémica
e há boas razões para os ouvir e
excelentes razões também para tentar
perceber aquilo que eles não
disseram. AÆnal, os dois
debruçaram-se sobre duas das lutas
mais importantes do nosso tempo: a
condição feminina e os desaÆos das
alterações climáticas.
Numa nota, o bispo do Porto, D.
Manuel Linda, revoltou-se contra o

facto de as autoridades terem tardado
na detenção do suspeito de homicídio
da freira Maria Antónia, em São João
da Madeira, e atacou também o
silêncio dos grupos que normalmente
se empenham em denunciar estes
casos, nomeadamente as feministas.
As críticas não são injustas. Continua a
faltar algum sentido de urgência às
autoridades nos casos de cariz sexual
e é estranho que organizações que se
empenham em contabilizar as vítimas
de violência de género se tenham
esquecido de um caso tão marcante
como o da freira.
Mas a preocupação do bispo em
criticar os deputados que considera
“radicais”, os organismos que dizem
“defender os direitos humanos” ou as
feministas tem também inerente o
incómodo que muitos deles
continuam a provocar numa Igreja

que, sejamos justos também,
contribuiu durante séculos para a
secundarização da mulher e que ainda
faz menos do que deveria para que ela
tenha igualdade de direitos e
oportunidades.
Grande incómodo despertou o
reitor Amílcar Falcão, ao anunciar, no
arranque do ano, que as cantinas da
Universidade de Coimbra iam deixar
de servir carne de vaca. Note-se que o
anúncio não era de que se ia deixar de
servir carne, mas de integrar a vaca na
ementa, espécie cuja criação alguns
estudos mostram ser a mais
prejudicial para o ambiente.
Não faltou quem falasse de
proibição, de fundamentalismo, de
alarmismo, para classiÆcar a opção do
reitor. Percebe-se a revolta dos
produtores, mas muitos dos
indignados que, nas redes sociais, não

demoraram a partilhar imagens
proteicas deveriam levantar os olhos
do prato e perceber que só poderemos
ganhar a corrida para salvar o planeta
se alterarmos profundamente alguns
dos nossos hábitos.
Da universidade espera-se o
exemplo e por isso faz bem o reitor
em enunciar esta medida com o seu
quê de simbólico. Mas fará mal se ela
não vier seguida de um empenho mais
alargado e contínuo na diminuição do
impacto ambiental da sua instituição.
Tal como os partidos que se
apressaram a colocar o ambiente
como uma das prioridades nos
programas para as legislativas, todos
têm de perceber que os tempos já não
estão para populismos. Não serão
perdoados.

David Pontes
Editorial

O PÚBLICO ERROU


Por lapso, na Edição Porto de
ontem, secção Local, identiÆcámos
Elisa Ferraz, presidente da Câmara
de Vila do Conde, como socialista.
A autarca, que chegou a ser eleita
nas listas do PS, venceu as últimas
eleições como independente.

Pedro Martins
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