Público - 09.09.2019

(Ron) #1

34 • Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019


CULTURA


“Esta proposta, tal como muitas
outras da Fundação GDA [Gestão dos
Direitos dos Artistas], vai melhorar
as condições de trabalho dos actores
em início e Æm de carreira”, diz Cata-
rina Salgueiro, actriz de 28 anos,
acerca do novo Programa Contrata-
ção+, que visa apoiar a contratação
de actores que começam ou estão no
Ænal da carreira. “Há muito tempo
que sentíamos falta de uma platafor-
ma que nos juntasse a realizadores e
a produtores, sem termos de recor-
rer às tradicionais agências.”
“A composição dos elencos do
audiovisual nos vários canais tende
a favorecer os actores mais jovens”,
explicou Carlos Vieira de Almeida,
actor de 74 anos e membro da direc-
ção desta fundação. “Há guiões que
são escritos sem contemplar os acto-
res mais velhos, que acabam por ser
discriminados.”
A Fundação GDA, juntamente
com a Gedipe (Gestão Colectiva de
Direitos de Autor e de Produtores
CinematográÆcos e Audiovisuais),
vai investir 90 mil euros no apoio à
contratação de actores proÆssionais
com menores rendimentos para
projectos de cinema e de televisão.
Mário Carneiro, director-geral da
fundação, explicou ao PÚBLICO
que “o cinema e a televisão são fon-
tes muito importantes de rendi-
mentos desta classe proÆssional”,
e que o objectivo desta iniciativa é
“alargar o leque de pessoas que têm
acesso ao trabalho”. “Este dinheiro
é o resultado de um investimento
da Fundação GDA e da Gedipe, duas
sociedades de gestão de direitos
que se associaram para promover
este programa”. Está aberto a acto-
res proÆssionais com mais de 60
anos ou com menos de 30, que
tenham concluído a formação aca-
démica na respectiva área, ou que
tenham participado como proÆssio-
nais remunerados em pelo menos
três espectáculos de teatro ou em
dois projectos de Æcção audiovisual.
Além da faixa etária, existem con-


Há uma bolsa de 90 mil euros


para apoiar actores em início


e no final da carreira


fundação acredita que este progra-
ma pode alterar este estado de coi-
sas. “Este mercado tem algumas
vicissitudes, e a introdução de um
programa deste tipo pode alterar o
modo como as produtoras e os rea-
lizadores seleccionam actores para
um Ælme, uma série ou uma novela”,
nota. “Com este programa e este
incentivo, esperamos criar mecanis-
mos que contrariem a situação mais
tradicional em que as pessoas que
tem um carisma popular e um
conhecimento maior por parte do
público são mais facilmente convi-
dadas para desempenhar um papel”,
diz Mário Carneiro.

Combater as desigualdades
Catarina Salgueiro começou a fazer
teatro em Sintra, aos 17 anos, no Tea-
tro TapaFuros. Formou-se na Escola
Superior de Teatro e Cinema, em Lis-
boa, e quando acabou o curso formou
uma companhia, os Possessos. Mais
recentemente, fez a sua segunda par-
ticipação numa longa-metragem no
Ælme A Herdade, de Tiago Guedes,
que esteve a concurso no Festival de
Cinema de Veneza. A actriz acredita
que esta plataforma pode quebrar
esse ciclo vicioso, onde a contratação
de actores para produções audiovi-

suais é baseada na sua popularidade,
em vez da sua “formação ou expe-
riencia proÆssional”.
“Esta é uma plataforma isenta,
imparcial e bastante interessante”,
diz a actriz. “Além disso, assegura
um apoio para o cachet dos actores,
o que pode ajudar a combater a
remuneração injusta, e muitas vezes
precária, para actores no início de
carreira”.
Apesar de Carlos Vieira de Almei-
da não poder beneÆciar dos apoios,
uma vez que faz parte dos quadros
da Fundação GDA, e de ter algum
receio sobre a forma como alguns
actores mais experientes podem
encarar este apoio — “não porque o
programa seja mau, mas por acha-
rem que não precisam de uma ‘esmo-
la’” —, o experiente actor que desem-
penhou o papel do Agente Lino em
Vila Faia, a primeira telenovela por-
tuguesa, e este ano teve uma peque-
na participação no mais recente
sucesso de bilheteiras do cinema
português, Variações, espera que o
programa possa contribuir “para
uma realidade mais justa, e que pos-
sa ajudar a furar barreiras das pro-
dutoras, uma vez que elas também
são beneÆciadas com a contratação
destes actores”. Texto editado por

Teatro


Hugo Geada


A Fundação GDA e a Gedipe


lançam Programa


Contratação+, para ajudar


profissionais com menos


de 30 anos ou mais de 60


Objectivo da


iniciativa é


“alargar o leque


de proÄssionais


que têm acesso
ao trabalho”

FOTOS: DR

Catarina Salgueiro tem 28 anos; Carlos Vieira de Almeida tem 74 anos

Breves


Festival de Veneza

Cinema

A Herdade, de Tiago


Guedes, recebe


um prémio da crítica


Leonor Teles


nomeada em Veneza


para prémio europeu


A Herdade, de Tiago Guedes,
foi distinguido no sábado com
o Prémio Bisato d'Oro (Enguia
de Ouro) para Melhor
Realização, por um júri da
crítica independente presente
no 76.º Festival de Cinema de
Veneza. Trata-se de um prémio
paralelo aos galardões oficiais
do festival, atribuído por um
júri independente presidido
por Paolo De Cesare, distinto
também dos prémios da
Federação Internacional de
Críticos de Cinema (Fipresci).
A Herdade, que entrou na
competição oficial do festival,
é protagonizado por Albano
Jerónimo e Sandra Faleiro, e
tem produção de Paulo
Branco. O júri viu no filme
“reminiscências do 1900, de
Bertolucci”.

O filme de Leonor Teles, Cães
que Ladram aos Pássaros, foi
nomeado pelo Festival de
Veneza para o prémio de
curta-metragem da Academia
Europeia de Cinema. A
curta-metragem portuguesa –
que acompanha os dias de
Verão de Vicente e da sua
família, obrigados a sair da sua
casa no centro do Porto, por
força da especulação
imobiliária – concorria à 76.ª
edição do festival italiano na
secção Horizontes. Com esta
nomeação do júri presidido
por Susanna Nicchiarelli,
Leonor Teles assegurou já a
presença na corrida aos
prémios da Academia
Europeia de Cinema, que
serão entregues numa
cerimónia marcada para 7 de
Dezembro em Berlim, capital
da Alemanha.

dicionantes de carácter social e
económico, não podendo os candi-
datos ter usufruído de um rendi-
mento ilíquido superior a 20 mil
euros no último ano, e não terem
recebido nos 12 meses anteriores
rendimentos de mais de 5 mil euros
do cinema ou da televisão.
“Este apoio destina-se a pessoas
que têm tido menos oportunidades”,
esclarece Mário Carneiro. “Assim,
evitamos incluir pessoas que estão
recorrentemente no cinema e na
televisão, e criamos oportunidades
para aquelas que não têm acesso tão
facilmente nesta área e que têm uma
maior fragilidade económica”, acres-
centa o director da fundação.
Apesar da pequena dimensão do
mercado audiovisual português e do
método pré-estabelecido e tradicio-
nal com que tem funcionado nos
últimos anos, o director-geral da
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