Público - 11.09.2019

(Jacob Rumans) #1
Público • Quarta-feira, 11 de Setembro de 2019 • 5

no Expresso, no qual aparece como
tendo saído de uma explosão. Quan-
do deixou o ministério, os seus cola-
boradores surpreenderam-na, oferen-
do-lhe o cartoon original de António.
Adorou e mandou fazer um quadro,
que ocupa um “lugar de destaque” na
quinta que tem em Santo Tirso.
Há um outro episódio que é lem-
brado: a construção do aterro sanitá-
rio em S. Pedro da Torre, em Valença
do Minho, foi alvo de grande contes-
tação, que se estendeu até ao dia da
inauguração. A líder do movimento
era uma mulher chamada Rosa, que
Elisa Ferreira fez questão de cumpri-
mentar quando chegou ao local para
inaugurar o aterro, gesto que repetiu
com os restantes manifestantes. No
Ænal, dirigiu-se à mesma senhora,
oferecendo-lhe o ramo de Çores que
recebera pouco antes das mãos dos
construtores do aterro.


DIOGO BAPTISTA

1.

A Comissão Von der Leyen
não é, longe disso, o
decalque da Comissão
Juncker. Há uma nova
distribuição de pelouros e
uma escolha diferente das
grandes áreas que devem ser a força
motriz da acção do novo colégio de
comissários. Há pelouros que
deixam de ser autónomos,
diluindo-se por diferentes
comissários — é o caso da Inovação e
Ciência, da responsabilidade de
Carlos Moedas, sem que se perceba
bem porquê. E há, naturalmente, a
preocupação de não ferir
susceptibilidades nacionais e de
levar em conta os tradicionais
equilíbrios entre Norte e Sul, Leste e
Oeste, “grandes” e “pequenos” e as
diferentes famílias políticas. Com 26
países (menos o Reino Unido) para
contentar, o puzzle construído pela
antiga ministra da Defesa de Merkel
nem sempre é de compreensão
imediata. A prática demonstrará se
esta nova Comissão, que agora vai
ter de passar o teste do Parlamento
Europeu, terá condições para criar
algum dinamismo numa Europa
ainda a curar as feridas da crise.
Muito dependerá da forma como a
sua presidente vier a exercer o
cargo, numa altura em que o poder
de liderança política da União está
cada vez mais concentrado no
Conselho Europeu, nem sempre
pelas melhores razões.

Análise
Teresa de Sousa

Continuidade ou mudança?


“campeões” para enfrentar os
gigantes americanos e chineses. A
comissária não se mostrou sensível,
lembrando que a inovação e a
competitividade vêm mais depressa
das pequenas e médias empresas
inovadoras do que dos “campeões
europeus”.


  1. Duas perplexidades. A
    primeira: para que servem as
    restantes cinco vice-presidências
    que Von der Leyen distribuiu aos
    países da Europa de Leste mas cujos
    pelouros não são muito relevantes?
    A única resposta possível é que
    constituem um incentivo adicional
    ao bom comportamento de alguns
    destes países, depois de um período
    de relações conÇituosas com
    Bruxelas por manifesto
    incumprimento das regras do
    Estado de direito, que a nova
    Comissão não pode pura e
    simplesmente ignorar. A mesma
    razão pode justiÆcar a decisão de
    entregar à comissária checa, Vera
    Jourová, o novo pelouro da
    Democracia. A segunda
    perplexidade: para quê um pelouro
    com o nome no mínimo
    controverso de European Way of
    Life? Foi entregue à Grécia. Inclui a
    politica de imigração, um dos
    dossiers mais difíceis que a Europa
    tem em mãos e aquele que mais tem
    servido de bandeira aos populismos
    e nacionalismos. Seria um erro
    deixar que prevalecesse qualquer
    ideia excludente de “superioridade”
    do modo de vida europeu.

  2. O comissário irlandês Æcará
    com uma pasta da competência
    exclusiva da União: o Comércio
    Internacional. A ironia está em que
    será ele a negociar um futuro
    acordo de comércio livre com o
    Reino Unido, se e quando vier a sair


da UE. Talvez tenha sido uma forma
de dizer a Londres que os seus 27
parceiros não deixarão cair a
Irlanda a troco de um acordo de
saída que não respeite a questão da
fronteira irlandesa. Com o antigo
primeiro-ministro italiano Paolo
Gentiloni na pasta da Economia,
incluindo o “policiamento” do
Pacto de Estabilidade e
Crescimento, Æca também a ideia de
que chegou o tempo de fazer uso de
uma maior Çexibilidade na
interpretação das suas regras.


  1. Portugal é outro dos claros
    ganhadores da nova distribuição,
    colhendo os frutos da credibilidade
    que o Governo conquistou e da
    qualidade inquestionável de Elisa
    Ferreira, que Æca com muito mais
    do que os fundos estruturais. Von
    der Leyen acrescentou ao seu
    pelouro a responsabilidade pela
    gestão do novo orçamento próprio
    da zona euro, uma das principais
    apostas do Governo para a reforma
    da união monetária, e ainda a
    gestão de um novo instrumento
    Ænanceiro, de ajuda às regiões mais
    desguarnecidas à transição verde e
    digital. Portugal já teve um
    comissário que Ægurou entre os dois
    ou três mais competentes e mais
    inÇuentes da Comissão — António
    Vitorino. Um português liderou a
    Comissão com demasiadas críticas
    ao seu desempenho para ter
    beneÆciado a imagem do país. Desta
    vez, o objectivo de Costa era juntar
    prestígio europeu e interesse
    nacional. A pasta cumpre o seu
    objectivo. Com uma vantagem: a
    inÇuência dos comissários mede-se
    bastante mais pelo seu valor pessoal
    do que pelo pelouro atribuído. Elisa
    Ferreira tem quase tudo a seu favor.


Sylvie Goulard, RE
Mercado Interno
Aos 54 anos, Sylvie Goulard é
uma entusiasta e indefectível
apoiante do Presidente da
França, que desde cedo a
apontou a duas pastas: Mercado
Interno ou Concorrência.


Margaritis Schinas, PPE
Protecção do Modo de Vida
Europeu
Schinas tem quase três décadas
de experiência em Bruxelas,
tendo passado por vários
departamentos da máquina
comunitária e ocupado vários
cargos, incluindo a Comissão de
José Manuel Durão Barroso.

Frans Timmermans, S&D
Vice-presidente para o Clima
O primeiro vice-presidente da
anterior Comissão fica agora
com responsabilidades
acrescidas e o novo título de
vice-presidente executivo para o
Clima.

Laszlo Trocsanyi, PPE
Política de Vizinhança e
Alargamento
Apesar de não militar no Fidesz,
fez carreira ao lado do
primeiro-ministro húngaro,
Viktor Orbán: foi o ministro da
Justiça que definiu grande parte
das leis que Bruxelas contesta.

Phil Hogan, PPE
Comércio
Conhecido em Bruxelas como
“Big Phil”, este irlandês
anti-”Brexit” será também o
interlocutor do Reino Unido nas
futuras negociações de um
tratado comercial, após a saída
do Reino Unido da UE.


  1. Para além do
    alto-representante para a Política
    Externa e de Segurança da União, o
    espanhol Josep Borrel, duas das
    vice-presidências, justamente as
    mais importantes, estavam já
    pré-determinadas pelo
    entendimento que levou à escolha
    de Von der Leyen, num Conselho
    Europeu particularmente agitado
    em Junho. O holandês Frans
    Timmermans e a dinamarquesa
    Margrethe Vestager, um socialista e
    uma liberal, Æcariam sempre com as
    duas principais vice-presidências.
    Haverá, portanto, no topo da
    Comissão uma espécie de “grande
    coligação” dos três principais
    grupos políticos — uma medida
    avisada para facilitar consensos
    num Parlamento bem mais
    fragmentado do que o anterior. A
    grande novidade, que quebra as
    regras não-escritas de Bruxelas, está
    em que Vestager, a prestigiadíssima
    comissária da Concorrência da
    Comissão Juncker, mantém a
    mesma pasta. “A
    atormentadora-chefe de Silicon
    Valley está de regresso”, escrevia
    ontem o site Politico.eu, lembrando
    uma das facetas mais importantes
    do exercício das suas funções: as
    multas pesadas que aplicou às
    gigantes tecnológicas dos EUA por
    desvirtuarem as regras de
    concorrência ou abusarem da sua
    posição monopolista nos mercados.
    A sua escolha pode também
    “atormentar” algumas capitais
    europeias, em especial Paris e
    Berlim, que tiveram de engolir o seu
    veto à fusão da Alstom e da Siemens
    para criar um “gigante europeu”
    dos comboios. As duas capitais
    argumentaram que a Europa
    precisa dos seus próprios


Janusz Wojciechowski, CRE
Agricultura
O Gabinete Europeu Antifraude
confirmou que está a correr um
inquérito por irregularidades nos
desembolsos de despesas
incorridas por Wojciechowski
durante o seu mandato como
eurodeputado.


Elisa Ferreira, S&D
Política de Coesão e Reformas
Aos 63 anos, a antiga ministra e
eurodeputada, que era
actualmente vice-governadora
do Banco de Portugal, regressa a
Bruxelas para gerir a distribuição
dos fundos comunitários.

Vera Jourova, RE
Vice-presidente e Valores e
Transparência
A atribuição da pasta do Estado
de Direito à ainda comissária da
Justiça será uma maneira de Von
der Leyen demonstrar que em
Bruxelas não há animosidade
contra os países de Visegrado.

Rovana Plumb, S&D
Transportes
O nome da eurodeputada e
antiga ministra do Ambiente da
Roménia foi o último a ser
confirmado por Ursula von der
Leyen, que teve à disposição
outras escolhas submetidas pelo
Governo de Bucareste.

Ylva Johansson, S&D
Assuntos Internos
Von der Leyen confessou que a
razão na sua aposta em Ylva
Johansson foi que a sueca “é a
mulher com quem devem falar
se querem ter alguma coisa bem
feita”. R.S., Bruxelas

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