Folha de São Paulo - 23.08.2019

(Ron) #1

aeee


ambiente


B4 Sexta-Feira, 23 DeagoStoDe 2019


CamilaPitanga
atriz
Nossas mataspedem socorro,
nossos rios pedem socorro, nossos
animais pedem socorro. Oarfica
irrespirável,odia viranoiteeorastro
de destruiçãoatingecada um de nós

Corinthians
clube de futebol
Time paulistano postou em sua
contaoficial no Instagramaimagem
tradicional do emblemacomo
mapa do Brasil, na bandeirade
SãoPaulo,pegandofogo,junto
comahashtag #rezepelamazonia

Anitta
can tora
Estoucagandoeandando paraquem
estáafimdemesilenciar [...]Nãoémeu
medo agora. Estou preocupada mesmo
em usar minharede decomunicação,
quetenho 40 , 5 milhões[de seguidores]
paraexplicar esse assunto

Gisele Bündchen
modelo
Aflorestatem um papel
fundamental noequilíbrio do clima
naTerraeem nossas vidas.Não
podemosfechar os olhos paraoque
estáacontecendo na Amazônia

LeonardoDiCaprio
ator,emrepublicação do empreendedor Nickrose
Assustador pensar queaAmazônia
éamaior florestatropical do planeta,
criando 20 %dooxigênio daTerra,
basicamenteospulmõesdomundo, está
em chamasequeimandonos últimos
16 dias consecutivos, literalmente
SEMcoberturadamídia! Por quê?

Mariza
cantoraportuguesa
Peçoperdãoaomeu filhoeaos
vossos.Atodasasgerações futuras
portamanhaignorânciaeganância
de alguns sereshumanos. Mil perdões

Lewis Hamilton
pilotodeF- 1
Édevastadorvernosso mundo sofrer.
Aflorestaamazônicaestáqueimando
aumataxarecorde, ehouve 80 %mais
incêndios nesteano emcomparação
ao anopassado.Sevocêainda nãofez,
porfavorpostesobreisso,évital que
continuemosadesencadearaação

CristianoRonaldo
jogador de futebol
Aflorestaamazônicaproduz
maisde 20 %dooxigênio daterra
eestáqueimando há três semanas.
Énossaresponsabilidade
ajudar parasalvar nosso planeta

PedroNeschling
ator
Eu não seicomovocêsestão
conseguindorespirarhoje.Eunão estou

Elza Soares
cantora
Oque estãofazendocomnossa
Amazônia? Estou chocadacomessas
imagens.Muitotriste, muitotriste,
muitotristemesmo.AAmazônia
queimando assim.... PorDeus!

Fernanda Lima
apresentadora
Barbárie ambiental.Atéquando?

IngridGuimarães
atriz
Enquantooshomensexercem
seus podres poderes

$
Famososrepercutem incêndio

EntrEvista
ricardosallEs



  • DiogoSchelp


SÃOPAULO|UOLOMinistério
doMeioAmbientequercri-
araForça-TarefaPró-Ama-
zônia,reunindoMinistério
daDefesa, PolíciaFederal, a
FundaçãoNacional do Índio
(Funai), AgênciaNacionalde
Mineração,InstitutoNacio-
naldeColonizaçãoeRefor-
ma Agrária (Incra)eaSecre-
taria dePatrimônio da União.
Além de entidadesdoter-
ceirosetor ligadasàpreser-
vaçãodaAmazônia,aforça-
tarefa incluirá empresaseas-
sociaçõescominteresseseco-
nômicosnaregião,comoma-
deireirasemineradoras.
Oobjetivo,disseoministro
RicardoSalles ao UOL,é“olhar
aquestão do desmatamento
da Amazôniacomo umtodo,
emtodas as frentes, etrans-
formar emrealidadeahistó-
ria de que florestaempévale
maisdoque florestadeitada”.
Ele prevêreuniões quinze-
naiseesperaque as primei-
rasmedidas sejamanuncia-
dasdentrodeummês.
Oanúncio da iniciativago-
vernamental ocorrenocon-
textodeuma crescentedete-
rioração da imagem preserva-
cionistadoBrasil noexterior.
Pesaram paraissooaumen-
to nosíndices dedevastação
da Amazônia, as críticasfeitas
pelopresidenteJairBolsonaro
(PSL)epor SallesàAlemanha
eàNoruega(principais doa-
dores doFundo Amazônia) e
ademissão do diretor do Ins-
tituto NacionaldePesquisas
Espaciais (Inpe),órgãoque
monitoraodesmatamento.






Plano Salles
Anovaforça-tarefa, afirma
Salles,atuaráemtrêsfrentes.
Aprimeirabuscarásoluções
paradesenvolvereconomica-
menteaAmazônia Legal, on-
deresidem 20 milhões de pes-
soas.Asegundavaiadicionar
um novosistema de monito-
ramentoecontrole do desma-
tamentoaos jáexistentes,for-
necidospelo Inpe.Aterceira
reforçaráasoperações de fis-
calização paracoibirepunir
as atividades ilegais quecau-
samdanoàfloresta.
Os objetivoseaforma de
atuação daforça-tarefaseas-
semelhamaumprograma já
existentenoâmbitodomi-
nistério,oPlano de Ação pa-
raPrevençãoeControle do
DesmatamentonaAmazônia


Legal (PPCDAm), de 2004.
Elaéuma iniciativaquecon-
gregadiversos ministérios e
estáestruturadoemquatro
eixos: ordenamento fundiário
eterritorial; monitoramento
econtroleambiental; fomen-
toàsatividades produtivas
sustentáveis;einstrumentos
econômicosenormativos.Re-
presentantes de organizações
ambientalistasreclamam que
Salles não estádandoconti-
nuidadeaesseplano.
Paraoministro, apressão
para destruiraAmazônia ile-
galmentepersistiráenquanto
não houver alternativaeconô-
micaparaexplorarsuas rique-
zas deforma sustentável, pro-
tegendoobiomaedando em-
pregoàpopulação daregião.
“Precisamosterumfoco
grandenaparticipação do se-
torprivadonabioeconomia
da florestae,paraisso,neces-
sitamos que as empresas nos
digam por que não investem
na Amazônia”, dizSalles.
Ele dáoexemplo das indús-
triasfarmacêuticaedecosmé-
ticos, que poderiammontar
naregião laboratórios dedica-
dosapesquisarabiodiversi-
dadeamazônicaparaodesen-
volvimentodeprodutos.“Até
hoje, as empresas nacionais e
internacionais não fizeram is-
so,eprecisamos entender os
gargalos que limitam esse ti-
po de investimento.”
Como parâmetrodoque
precisa serfeito, Sallescita o
conceitode“Amazônia 4. 0 ”de
CarlosNobre, pesquisador do
Inpe,equeconsisteemapro-
veitaropotencialeconômico
da Amazôniacomtecnologia
esem desmatamento.
“Há um entendimentode
que não hánecessidade de au-
mentaraáreaplantada, que é
possível pegar as antigas pas-
tagens,que estãodegrada-
das,efazer usointensivodo
soloque já estáaberto”,diz o
ministrodoMeio Ambiente.

Fundo Amazônia
Sallesatribuiapolêmicaem
torno doFundo Amazônia à
sua preocupaçãocomafalta
de participação da iniciativa
privada nas soluções paraa
preservaçãodafloresta.
Nasemanapassada, em
meioacríticas deBolsonaro
edeSallesaopassivoambien-
taldaNoruegaedaAlemanha,
os dois países, quesão os mai-
ores financiadores do fundo,
suspenderam suasdoações.
“OFundo Amazônia não
trouxeosetor privadopara
darcontinuidadeàspolíti-
caspúblicaseàscadeias pro-
dutivas. Semosetorprivado,

Salles quer criar força-tarefapara


Amazônia com empresaseONGs


MinistrodoMeio ambientediz que desmatamentonão pode ser atribuídoaBolsonaro


nenhum investimentovai ser
duradouro. Estaremos ape-
nas criandouma demanda
artificial e, quandoorecurso
públicofor retirado,ainicia-
tivamorre”,diz Salles.
Segundo ele, diversas ações
bancadascomodinheirodo
fundo não estavamtendore-
sultadoseserviam apenas pa-
ra transferir dinheiroparaor-
ganizações ambientalistas.
“Nós nosdeparamoscom
uma grande dificuldade em
teringerência mais efetivado
governo sobreotipo deproje-
to queera adotadoenamen-
suração dosresultados”,diz.
Sallesconsideranaturalasus-
pensão das doações porNoru-
egaeAlemanha, enquanto as
normas estãoemdiscussão.
“Ou chegamosaumbom
termoeofundoretoma suas
atividadesreadequadoaes-
savisão de maior eficiência,
maior transparênciaemaior
resultado parasuas ações; ou
não chegamosabomtermo,
eosrecursosdoFundo Ama-
zônia nãovêmmais.”

Garimpos legais
Salles defende queépreciso
regularizaratividadesprodu-
tivas na Amazônia paraque,
sobregras ambientais claras
ecom segurançajurídica,elas
deixem decausar danos.
Isso pressupõefazerare-
gularização fundiáriae“re-
alizaroaproveitamentomi-
nerário daregião da Amazô-
nia de maneirasustentável”.
“Legalização”éapalavra
queoministroutiliza para
apontarasoluçãoparaoga-
rimpo ilegal.“Existem mais de
800 garimpos ilegais na Ama-
zônia,atuando há 20 anos. Co-
moreverter isso:regularizar,
legalizar.Tirar essasativida-
desdas margens da lei.”

Desmatamento
RicardoSallesconfirma que
oministério estános últimos
preparativos paracontratar
um novosistema de monito-
ramentopor imagens de sa-
télites daregião amazônica,
parafornecerinformaçõesrá-
pidas sobreasatividades ile-
gais de destruição da floresta.
Desde que assumiuocargo,
eletemfeitocríticas ao moni-
toramentodoInpe, vincula-
doaoMinistério da Ciência e
Tecnologia.Noinício do mês,
RicardoGalvão,diretor do ór-
gão, foidemitidoaoreagirà
afirmação,feitapor Bolsona-
ro,deque os dados sobredes-
matamentodivulgados pelo
institutoerammentirosos.
Opresidentequestionou
especificamenteosdados de

desmatamentomedidos pelo
Deter, um levantamentorápi-
do de alertas deevidências de
alteração dacoberturaflores-
talnaAmazônia, queserve pa-
ra identificar onde estão ocor-
rendoatividades ilegaisatem-
po deafiscali zaçãointervir.
ODeter apontou aumen-
to decercade 88 %naáreade
desmateemjunho desteano
emcomparaçãocomomes-
momêsde 2018 ede 278 %no
mês passado,emcompara-
çãocom julhode 2018.
AindaqueoDeter nãoseja
aferramentaapropriada pa-
ra apontartaxasconsolidadas
de desmatamento, costuma
ser usadocomoparâmetro
datendência na devastação.
OInpe dispõedeoutroindi-
cador, oProdes, quedáocon-
solidado anual.Deagostode
2018 ajulho de 2019 ,ele apon-
ta saltode 40 %nodesmata-
mento. Sallescontestatam-
bém esses números.
“O Imazon [InstitutodoHo-
memedoMeio Ambiente],
queéuma ONGenãotemna-
daavercomogoverno,diz
queoaumento do desmata-
mentoanualfoide 15 %deju-
lho/agostode 2018 ajulho/
agostodeste ano”, dizSalles.
Os sistemas do Inpeedo
Imazon, porém, não sãocom-
paráveis,pois usam metodo-
logiasdiferentes de processa-
mentodos dados. E, apesar
dasdiscrepâncias, eles apon-
tamdemaneirainequívocaé
queoritmo da devastação da
florestasegue aumentando.
“Há um aumentocontínuo
do desmatamento, quevem
de 2012 atéagora.Ninguém
estánegando um aumentodo
desmatamento,mas éerrado
imputar esse crescimentoao
governoBolsonaro”,afirma.

Monitoramentoprivado
Ogoverno pretendeadotar
um novosistemademonito-
ramento, nos moldesdoofe-
recido por umatecnologia
americana disponibilizada no
Brasil pela empresaSantiago
&Cintra.Osistema utilizado é
oPlanet, que produz imagens
maisdetalhadasecom maior
frequência do que as do Inpe.
“ODeternão se prestaame-
dirvolume de desmatamento,
nãoéprecisoenãofazcom-
parações.Parasaberseodes-
matamentoaumentou,épre-
cisocompararamesma área
emtempos diferentes.ODe-
ternãofazisso”,insisteSal-
les. Ele alega, porém, que os
levantamentosdoProdese
doDetercontinuarãosendo
realizados.Aeles se somará
agoraonovo sistema privado.


Precisamos
terumfoco
grandena
participação
do setor
privado na
bioeconomia
da floresta
e, paraisso,
necessitamos
que as
empresas
nos digam
por que não
investem na
Amazônia


Existem mais
de 800 garim-
pos ilegais na
Amazônia,
atuando
há 20 anos.
Como
reverter isso:
regularizar,
legalizar.
Tirar essas
atividades
das margens
da lei


Há um
aumento
contínuo
do desmata-
mento, que
vemde 2012
atéagora.
Ninguém
está negando
um aumento
do desma-
tamento,
maséerrado
imputar esse
crescimento
aogoverno
Bolsonaro

Imagem do ministrodoMeio Ambiente, Ricardo Salles, natela de máquinafotográfica duranteentrevista Lucas Seixas/UOL

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