Folha de São Paulo - 23.08.2019

(Ron) #1

aeee Sexta-Feira,23DeagoStoDe2^019 B9


esporte


Acho queaprimeiravezque
vi de pertoaseleçãobrasilei-
rajogar eu já trabalhavaco-
mo jornalista.
Quando criança, não tivees-
sa oportunidade.
Os craques que eu via brilhar


comacamisa do Brasil —Ro-
naldo,Ronaldinho,Rivaldo—
jogavam na Europa,eera mui-
toraroque um amistoso da
seleçãoacontecesse em solo
brasileiro.
Desde queotime pentacam-


peãodo mundo, aliás, virou um
grande negócio paraaCBF,os
jogospassaramaser cadavez


mais distantes, no paísque pa-
gasse mais por isso.
Essarealidade nãomudou
ainda.Até mesmo os jogos da
Copa Américaneste ano mos-
traram queéprecisoser mui-
tosortudo(leia-se rico) para
conseguir iraumjogodase-
leçãonoBrasil.
Os gritos de “defense”, nu-
ma alusão ao que acontecena
NBA(parecesurreal, eu sei),
mostramoquantoessatorci-
da estádesconectada do time
quevesteacamisacanarinho.
Mastemuma seleçãoque
despertou interesseeresga-

touapaixão dos brasileiros
nesteano.
Na CopadoMundofemini-
na, disputada naFrança, mui-
ta gente“descobriu” uma legi-
ão de “novas” craques:Marta,
Formiga,Cristiane, Thaisa,Ta-
mires,Debinha.
Forammaisde 30 milhões
ligadosnaTVtorcendopa-
ra elas nasoitavas de final do
torneio.
Foramcentenasdepessoas
no aeroportodeGuarulhos em
plena madrugada deterça-fei-
rapararecepcioná-las.
Eagora há uma oportunida-

deúnicadever todasessas cra-
quesemcampo aqui pertinho.
Paraquem viuRonaldo in
locojogando pela seleção, já
imaginou poderaplaudir de
pertoaquela queéseisvezes
melhor do mundo desfilando
omelhor de seu futebolem
campo?
VerMarta jogaréumprivi-
légio que nós brasileirospre-
cisamos aproveitaraomáxi-
mo enquantoainda hátempo.
Elaésimplesmente amaior
jogadoradetodosostempos,
enãoétodo dia quevocêpo-
deverahistóriabem ali,dian-

te dos seus olhos.
EFormiga?Uma jogadora
quese entregounos últimos
24 anos pela seleçãobrasilei-
ra,quetemseteCopas do Mun-
do no currículoeque, aos 41
anos, esbanjafôlegodentro
decampo.
Aoportunidade deveressas
duas emcampo estáaí.
No dia 29 de agosto, ambas
estarão no Pacaembu dispu-
tando umtorneio amistoso,
aestreiadatreinadorasueca
Pia Sundhagenocomando da
se leçãobrasileira.
Começa comChilexCostaRi-
ca,às 19 h, depoisoBrasil en-
frentaaArgentina, às 21 h 30.
Afinalseránodia 1 ºdese-
tembro, também no Pacaem-
bu, às 13 h 30.
Éachancedequem não viu
Ronaldo,RonaldinhoeRival-
do de pertose esbaldarcom
omelhor futebol dascraques
quetambém já fizeramhistó-
riacomacamisa da seleção.

Oingresso maiscarocusta
26 reais.

Umanovaeranofuteboldas
mulheres
Depois de nove mesessemco-
mando,asseleções femininas
sub- 17 esub- 20 finalmentees-
tãocom novostreinadores.
Aomenosaesperavaleua
pena, os nomesescolhidos são
muitopromissoreseincluem
ex-jogadorascomo Jéssicade
Lima (auxiliar de Jonas Uri-
as na sub- 20 ), Simone Jatobá
(comandantedasub- 17 ,tem
diploma de treinadorapela
Uefa),Lindsay Camila (assis-
tente, acumulaexperiência de
mais de cincoanos treinan-
docategorias de basefemini-
nas naFrança)eMaravilha
(ex-goleiradaseleçãoeapri-
meirapreparadoradegolei-
rasdaCBF).
Finalmente ofutebolfemi-
nino estáindoparaasmãos
delas.

torneio no Pacaembuéoportunidade de ver atletascomo Marta eFormiga



  • RenataMendonça


Jornalista, passou por eSPNeBBC.escreve no Dibradoras, blog sobremulheres no esporte


Achancedever craques da seleção


|dom.Juca Kfouri,Paulo ViníciusCoelho,Tostão|seg.Juca Kfouri, Paulo ViníciusCoelho |qua.Tostão |qui.Juca Kfouri|sex.RenataMendonça|sáb.KatiaRubio


EsportEaovivo

10h

14h

16h

18h

20h

22h

0h

10hMundial de
Canoagem
Velocidade,SPORTV

15h30Colonia x
BorussiaDortmund
alemão,fOxSPORTS

16hAstonVilla
xEverton
Modalidade,
ESPN BRASIL

19h15Atlético-GO x
BrasildePelotas
SérieB,SPORTV

21hArsenalx
SanLorenzo
argentino,fOxSPORTS

21h30Cuiabá x
Botafogo-SP
SérieB,SPORTV


  • KlausRichmond


santosJoelinton Cássio Apo-
lináriodeLira, 23 ,aindaéum
quase desconhecido entreos
brasileiros que iniciarama
disputadaPremier League,
oInglês,noúltimo dia 9.
Em 23 de novembrode
2014 ,quando eleatuavape-
lo Sportemarcouseu pri-
meirogol dacarreiraprofis-
sional em um empate como
Fluminense pelo Brasileiro,
uma declaração do entãotéc-
nicodotime pernambucano,
EduardoBaptista, pareceu es-
tranha. “Serádifícil segurá-lo
aqui.ÉumjogadorparaEu-
ropa”, afirmou.
Cinco anos depois,obrasi-
leiromaiscaro da última jane-
la de transferênciasdo fute-
bol inglêsejogador maisva-
lioso da história doNewcas-
tle,comprado pelo clube por
40 milhões de libras (R$ 197
milhões), buscaseu espaço
entreasfigurasdedestaque
dotorneio nacional mais ba-
dalado do mundo.
“Éumaresponsabilidade
muitogrande,até pelosva-
lores, mas procuronão tra-
zermais pressão.Ascoisas
mudam muitorapidamente
paramim”, ele disse àFolha.
Joelinton cresceu nazona
rural de Aliança(a 84 km de


Recife), pequenacidade de
Pernambucocom aproxima-
damente 30 mil habitantes.
Ele tinhacomo passatempo
preferido na infância jogar fu-
tebol noscampos do engenho
decana-de-açúcar que ficava
ao lado de suacasa.
Desde quesaiu do local pa-
ramorar no alojamentodo
Sport, suacarreiraficoumar-
cada pelaprecocidade. Em
2013 ,com 16 anos, subiu pa-
ra otimeprincipal. Estreou
aos 17 elogoganhou as pri-
meiras chancescomo titular.
Com apenas 18 anos e 34 jo-
goscomo profissional, deixou
aequipe pernambucana em
junho de 2015 ,parajogar no
Hoffenheim, da Alemanha.
“[Essa proposta]foialgo
que surgiu muitorápido,não
esperava. Sabia que seria di-
fícil, estavacomeçando ain-
daetinha só um ano jogan-
do no profissional, mas paraa
minhafamíliaseriaamelhor
decisão”,afirmou.
Ele chegouàAlemanha
comparadoaRobertoFir-
mino,devidoàpassagem de
sucesso pelo mesmoclube
doatacante, hoje no Liver-
poolenaseleção brasileira.
Aprimeiratemporadade
Joeliton no clube alemão,po-
rém, nãofoidigna de nenhu-
macomemoração. Ele jogou

apenas cincominutos, dian-
te do Schalke 04.
“Sempredisse quetemos
[ele eFirmino]estilosdife-
rentes.Alíngua pesou, era
horrível nãoconseguir me
comunicarcomoscompa-
nheiros. Saía paracomer e
tambémnãoconseguia, vi-
nha algototalmentediferen-
te.Não estava bem”, contou.
Natemporada seguinte,Jo-
elintonfoiavisadopelos seus
empresários de queoHoffe-
nheim haviaacertadooseu
empréstimo ao Rapid Viena,
clube austríacoque ele nem
sequerconhecia, mas que
mudaria suacarreira.
“Precisava jogareaprender
alíngua.Fazia aula[deale-
mão]trêsvezes por semana
efui amadurecendo jogando,
ganhandoexperiência”, disse.
Foram 21 gols em 79 jogos
pelo Rapid,time no qualfi-
coupor duastemporadas,
mas ele permanecia desa-
creditado dentrodopróprio
Hoffenheim. “Ninguém que-
ria que euvoltasse.”
Arejeiçãofoivencidaquan-
doJoelinton agradou aotéc-
nicoalemãoJulianNagels-
mann nos treinamentos pa-
ra atemporada 2018 / 19 .Em
seguida,ele teveomelhor
desempenho de suacarrei-
ra,com 11 gols enoveassis-

tências em 35 partidas.
“Voltei mais maduro,cheio
deconfiança.Saíderejeitado
parater propostas[decom-
pra]recusadas em janeiro. O
Hoffenheim nem queria mais
que eu saísse.Depois, apare-
ceualgobom paratodos”,afir-
mouoatacante, queteve pas-
sagens pelas seleções sub- 17
esub- 20 do Brasil, mas nun-
ca foiconvocado paraaequi-
pe principal do país.
No Newcastle,tradicional
clubeinglês quenãoatraves-
sa um bom momento, orotei-
ro inicial parecia perfeito. Ga-
nhouacamisa 9 de Alan Shea-
rer, maior artilheiro da histó-
ria daequipe,com 206 gols, e
estreoucom credenciaispro-
missoras, marcando na vitó-
ria por 3 a 1 em um amistoso
comoHibernian,daEscócia.
NaPremier League, porém,
ocaminhodele mais umavez
serádeprovação. Otimeper-
deu as duas primeiras parti-
das nacompetição–diantede
Arsenal, na estreia,edoNor-
wich, no último sábado ( 17 ).
Nopróximo domingo ( 25 ),
enfrentaráoTottenham em
buscaderecuperação.
Joelinton esperaagorausar
abagagem que adquiriu na
Alemanhaparaajudarono-
votimeasuperar suas pró-
priasdificuldades.

Rejeitadonofutebol alemão,


brasileiro custa R$ 200mi


Contratado pelo Newcastle, Joelintontentaemplacar na PremierLeague


OatacantebrasileiroJoelinton, do Newcastle, cabeceia entreoszagueirosdo NorwichCity MollyDarlington-17.ago.19/Reuters


Um dos pioneiros em


jogar com ospés, goleiro


recusou Ajaxporpescaria



  • AlexSabino


sãoPauloParaobadalado
técnicoespanhol Pep Guar-
diola,oque umgoleirocon-
seguefazercom os pésétão
importantequantoasdefe-
sasrealizadascomasmãos.
Estatendência, que não é
nova nofutebol,temumpai:
JanJongbloed,goleirodocar-
rossel holandêsnoMundial
de 1974 ,naAlemanha.
Ele nãofoioprimeiro, mas,
porcausa da popularidade da-
quelaseleçãoedaimagem mi-
tológicaqueoesquema dotéc-
nicoRinusMichelsconseguiu
na história do futebol, setor-
nouamaiorreferência.
“A inspiração deJanera Gyu-
la Grosics,goleirodaHungria
na Copa de 1954 .Ele simfoio
primeirojogador da posição a
se notabilizar poratuar quase
como um líberoesair jogan-
docomospés”,diz Yoerivan
der Busken, autorde“Aparte-
ling” (“Separação”,emholan-
dês), biografiadeJanJongblo-
ed,lançada em junho.
Ahistória futebolísticado
atleta,hojecom 78 anos, é
única. Com 1 , 79 m, eraconsi-
derado baixoparaoesporte
ejamaisatuou por nenhuma
dasequipes mais importan-
tesdaHolanda(Ajax, Feye-
noordePSV). Fezacarreira
em clubespequenos,como
DWS, FCAmsterdam,Roda
JC eGoAhead Eagles.
Depois de ser vice-campe-
ão mundial, em 1974 ,rece-
beu propostadoAjax,time
que haviaconquistadoaCo-
pa da Europa(atual Champi-
ons League) nas trêstempo-
radas anteriores. Elefoilibe-
rado peloFCAmsterdam,mas
se recusouatrocardeclube.
Significaria perderasfolgas
quetinha àsterças-feiras, dia
em quecostumava ir pescar.
“Apescaria semprefoia
grande paixão da vida deJong-
bloed.Ele não trocavaisso por
nadanomundo”,completa
vander Busken.
Oquetorna mais estranha a
presençadele no timequere-
volucionariaofuteboléofato
de que,atéummês antes do
Mundial na Alemanha,Jong-
bloedtinha apenas umacon-
vocaçãoparaaseleção.
Otitulardeveriaser Janvan
Beveren, mas ele se machucou
duranteapreparação dotor-
neio.Além disso,tinha um de-
feitomortal paraaquela Ho-
landa: erainimigodeJohan
Cruyff,ocraqueedono da se-
leção. Jongbloed, aocontrário,
eraamigodoastro.
Paraconvencer Michels a
convocar seu amigo, omeia-
atacanteapresentouumar-
gumento, além da amizade.
Jongbloedseencaixava perfei-
tamentenoestilo de jogopre-

tendido pela Holandanaquele
torneio:apressãonamarca-
ção, otoque de bolaeatletas
atuando emvárias posições.
Ogoleiroholandêscome-
çouacampanhafazendoalgo
inéditonofutebol na erados
jogostelevisionados:quando
suaequipe não tinhaabola, fi-
cavafora da área,como mais
uma peçadefensivaparaser
acionadaemcaso de neces-
sidadeouparacortarcomos
pés lançamentoslongos.
Aposentado em Amster-
dam,Jongbloedficouvisto
duranteanoscomoapeça
maisfracado queerauma
grandeequipe.Foiespalhada
aversãode que, seaHolanda
tivesseumgoleiromelhor,te-
ria sidocampeã.Ogoleiroe
seu biógrafo contestam isso.
Em seis partidas antes da
decisãocomaAlemanhaOci-
dental,Jongbloedsofreuape-
nas umgol, marcadocontra a
metapelo holandês Krol, di-
antedaBulgária.Nafinal, aca-
bou batidopor pênalticobra-
do porPaulBreitnerepela fi-
nalização deGerdMuller de
dentrodaárea, lanceque o
goleiroconsideraser impos-
sível de defender.
Jongbloedconseguiu ser um
dosgoleiros mais lembrados
da históriadofutebol mes-
mo semter sidoumdosme-
lhores. Issoporterligado sua
imagemàCopa doMundo.
Dos 24 jogos quefezpelase-
leçãoholandesa, 12 forampe-
lo Mundial.Dois deles, finais.
Jongboledcontinuou no fu-
tebolaté 1986 .Decidiu parar
quando,aos 45 anos, sofreu
umataquecardíacoemcam-
po.Naépoca, ele já havia per-
didoofilho Erik,quetambém
eragoleiroemorreu aos 21
anos, em 1984 ,aoser atingi-
do por umraio duranteuma
partida amadora.
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