54 psique ciência&vida http://www.portalespacodosaber.com.br
WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=ER05WQWIZSA
O OUTRO COMO REFERÊNCIA
DA PRÓPRIA VIDA
C
artas entre Scott e Zelda ao longo de toda a sua vida demonstram a imen-
sa e profunda relação de dependência que tinham um pelo outro; mesmo
quando o amor acabou e não conviviam mais, cada um culpava o outro por
seus desapontamentos, fracassos e pelo relacionamento destrutivo e desquali-
ficador que desenvolveram. Porém, com tudo isso, não deixaram de ter o outro
como referência da própria vida.
A essa relação nada saudável chamamos de codependência. No caso deles,
e na maioria das ocorrências, essa relação patológica foi sendo estruturada
de forma gradual e contínua, durante muito tempo. A codependência é um
padrão de comportamento sempre disfuncional, pois direciona o foco do in-
divíduo para fora de si, assim como para as estratégias de enfrentamento de
problemas, retardando-os de serem resolvidos e colocando no outro a “culpa”
ou responsabilidade de todos os fatos e situações. Além disso, a codepen-
dência é um comportamento que corrobora e facilita as atitudes impróprias,
ajuda a perpetuar os problemas do relacionamento e até favorece o abuso
físico e mental. Como consequência, uma vez firmemente estabelecida como
comportamento, caracteriza-se por um processo de dependência emocional,
social e até física e, com o passar do tempo, torna-se um perigoso traço de
alteração da personalidade, com desdobramentos para patologias psíquicas
maiores, como psicoses e esquizofrenia.
Na codependência, um fato conhecido é que a obsessão pelo outro e a
dependência patológica causam grande impacto e sofrimento na vida de quem
as vive e também na das pessoas próximas, mas poucos percebem que estão
vivendo uma relação codependente, e que ela é altamente prejudicial para am-
bas as partes envolvidas. Tanto que em um certo período Zelda apaixonou-se
por um piloto francês e pediu o divórcio. O relacionamento do casal estava
péssimo, só se agrediam, mas Scott não aceitou o fim e a trancou no quarto da
casa deles até que ela, semanas depois, desistisse da ideia.
Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia pela PUC-SP, supervisor e
palestrante. Coordenador e professor do curso de especialização em
Transtornos e Patologias Psíquicas pela Facis, professor de pós-graduação no
curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-SP. Atua há mais de 30 anos
em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia, com especial
dedicação à psicossomática, transtornos e patologias psíquicas.
PERlL
%SEGUINDOAIDEIADEQUESUAVIDA
PARECEUUMARGUMENTODEFILMEEM
ESTAVAINTERNADANOHOSPITALPSI-
QUIÉTRICODE!SHEVILLEESCREVENDOUM
novo romance, Caesar’s Things, quan -
do um grande incêndio consome to-
TALMENTEOHOSPITALE:ELDATRANCADA
EMSEUQUARTOEMUMADASALASNÎO
CONSEGUIUSERSALVATENDOUMAMOR-
TETRÉGICAnMORREUQUEIMADAAOS
anos de idade.
3UASOBRASPASSARAMASDÏCADASDE
ENOSSØTÎOSDAFAMÓLIAIN-
CLUSIVEAMÎEMANDOUQUEIMARMUITOS
DOSSEUSQUADROSPORQUENÎOGOSTAVA
DELESDESTRUINDOGRANDEPARTEDESEU
VAN'OGHE'EORGIA/+EEFFEQUENOS
INSPIRAACELEBRARAVIDA$ESDEENTÎO
EXPOSI¥ÜESDESEUSTRABALHOSJÉhVIAJA-
RAMvASGRANDESCIDADESDOS%5!E
PAÓSESDA%UROPACOMGRANDESUCESSO
DECRÓTICAEPÞBLICO3EUSCONTOSPOE-
SIASECARTASTAMBÏMFORAMCOMPILA-
DOSEPUBLICADOS6ÉRIOSLIVROSFORAM
ESCRITOSSOBRESUAFASCINANTEETRÉGICA
VIDAEALGUNSADAPTADOSPARAFILMESE
MINISSÏRIETENDOCOMOTEMASSUAARTE
oprocesso do adoecer psíquico e a re-
LA¥ÎODECODEPENDÐNCIAAFETIVAABUSI-
VADOCASAL
ACERVO %NTRETANTO EM MEADOS DOS
ANOS ESTUDIOSOS E CRÓTICOS DE
ARTE COME¥ARAM A EXAMINÉ
LAS CON-
CLUINDOQUESUASPINTURASREPRESENTAM
OTRABALHODEUMAMULHERTALENTOSA
E VISIONÉRIA #ONSTATARAM ENTÎO QUE
:ELDA CRIOU UM CONJUNTO DE OBRAS
FASCINANTESINTENSASEVIBRANTESCOM
VISÓVELINFLUÐNCIADOSGENIAIS6INCENT
:%,$!15%
3%-02%3%/0 3
±3./2-!30!4%2.!3
!')!#/-/3%!3
./2-!315!)315%2
15%&/33%-
4)6%33%-15%3%2
.%#%33!2)!-%.4%
42!.3'2%$)$!3
0/2%,!
Enquanto passava por um tratamento intensivo
em que vivenciou o afastamento do marido,
Zelda teve um arroubo de criatividade e escreveu
Essa Valsa É Minha, lançado com sucesso
perfil.indd 54 29/01/2019 16:15