Um verme para
(não) chamar de seu
Geralmente, a cena é a mesma: o
cão, ou o gato, sai para passear e,
de repente, encontra fezes velhas
alheias. Como quem não quer nada,
se aproxima, cheira, sente o gosto
e segue explorando o ambiente.
Ou talvez nem chegue perto do
cocô, mas a grama onde pisa já
foi contaminada pelo excremento
de outros animais. Nos dias
seguintes, lá vêm diarreia, dores e
outros sintomas digestivos. Assim
funciona o modus operandi das
verminoses, um grupo de doenças
causadas por parasitas de diversas
origens, tamanhos e formatos.
O principal meliante da lista é o
Dipylidium, que começa a jornada
parasitária usando a pulga como
hospedeira intermediária. É por
meio da ingestão acidental da
pulga que cães e gatos liberam a
entrada desse platelminto no seu
trato gastrointestinal. Dentro do
corpo, o verme achatado pode
chegar a 50 cm de comprimento.
Os sintomas são diarreia e coceira
na região anal, que fazem o animal
arrastar o ânus pelo chão. Para
o tratamento da parasitose, o
indicado é administrar vermífugos
e antipulgas em conjunto. “Dessa
forma, evitamos que o ciclo do
parasita se complete”, explica
a veterinária Cristine Fischer,
professora da Universidade
Luterana do Brasil, em Canoas, no
Rio Grande do Sul. Os cuidadores
também devem dedetizar os locais
de descanso dos pets para eliminar
as pulgas em estágios menos
avançados. Para toda fase da vida
dos bichos de estimação, parece
que a natureza tem uma verminose
feita sob medida. Os nematódeos
do gênero Toxocara, por exemplo,
são frequentes em filhotes caninos
e felinos de até 1 ano e encabeçam
a segunda posição do ranking. Não
raro, os bichos acabam infectados
por meio da placenta e do leite
materno. Cada verme cilíndrico
desses pode chegar a 18 cm
de comprimento e permanecer
no intestino delgado por vários
meses. A toxocaríase provoca
atrasos de crescimento, diarreia,
barriga inchada e até morte por
obstrução ou perfuração intestinal.
O Ancylostoma é outro nematódeo
bem recorrente, mas em animais
adultos. Esse verme se alimenta
de sangue no intestino dos cães e,
por isso, provoca diarreia e anemia.
As fezes expostas de bichos
acometidos podem desenvolver
larvas em menos de 48 horas, se
houver temperatura morna e alta
umidade do ar. A doença pode ser
transmitida apenas pelo contato
das patas do animal com o local
contaminado. A ancilostomose —
ou amarelão — também afeta os
humanos. O verme mais comum
em bichos idosos é o Trichuris,
que se instala no intestino grosso.
Uma forma de identificar seu rastro
característico são os pelos feios
e quebradiços das vítimas. Os
ovos desses nematódeos podem
sobreviver em meio à sujeira
externa por mais de quatro anos.
Manter quintais limpos ajuda
a evitar sua proliferação.
32 • SAÚDE É VITAL • SETEMBRO 2019