Mosquitos e perigos no ar
É quando o tempo esquenta que
esses insetos voadores fazem a
festa. Assim como nos perturbam,
trazem problemas para os animais.
O mosquito Aedes aegypti,
que espalha a dengue entre os
humanos, transmite aos cães uma
doença grave que afeta o coração,
a dirofilariose. “Se não for tratada,
há risco de morte por insuficiência
cardiorrespiratória”, alerta o
veterinário Ricardo Cabral, da
Virbac, farmacêutica especializada
em saúde animal. Os mosquitos
anófele e cúlex também podem
carregar as larvas da lombriga
Dirofilaria immitis, conhecida como
“verme do coração”. Após a picada,
as larvas se deslocam pelo sangue
até o músculo cardíaco, e o cão
começa a ficar ofegante — daí
ele perde o pique e fica apático.
À medida que a moléstia avança,
despontam tosse, perda de peso
e convulsões. Comum em regiões
litorâneas e úmidas do país, a
dirofilariose precisa ser tratada na
fase inicial para evitar o colapso do
coração. Os animais que vivem em
regiões mais próximas do mar e
em algumas áreas rurais também
estão mais suscetíveis a outro
inimigo alado, o mosquito-palha.
Esse inseto pequeno e amarelado
— a bem da verdade, não é um
mosquito, mas um flebotomíneo
— é o vetor do protozoário
causador da leishmaniose. De
acordo com a Fiocruz, o Brasil é o
país que mais concentra espécies
de mosquitos-palha no mundo.
Endêmica no país, a doença vem
migrando para as cidades com
o avanço da urbanização e do
desmatamento. “Após o animal ser
picado, o protozoário se aloja no
interior das células, especialmente
nas responsáveis pelo sistema
imunológico”, explica Cabral.
Felizmente, há uma vacina, aplicada
a cada ano e destinada apenas a
animais não infectados: havendo
contágio, ela impede que a doença
se desenvolva. Um dos grandes
desafios hoje é detectar o problema
cedo. Os primeiros sintomas são
lesões na pele que se confundem
com dermatites. Depois vêm
vômitos, diarreias e sangramento
nas fezes, também comuns a
outras infecções. Na dúvida, é
preciso procurar o veterinário
e lançar mão de exames que
flagram o dito-cujo. Quanto antes
começar o tratamento, melhor.
Há apenas um remédio contra a
doença disponível no Brasil. Além
de controlar as manifestações do
problema, a medicação evita a
corrente de transmissão. A barreira,
por ora, é o preço: o menor frasco,
de 30 mililitros, custa em média
500 reais. Até 2016, por causa
da carência de um tratamento,
os animais infectados eram todos
sacrificados. O abate, alegava-
-se, era uma forma de reduzir a
disseminação da leishmaniose
nos seres humanos — os cães,
porém, não passam a doença aos
tutores, são apenas hospedeiros
do protozoário. Graças à ciência
e à conscientização, as vítimas
do mosquito-palha ganharam
uma nova chance de viver —
e ao lado da família.
90%
dos casos da
leishmaniose na
América Latina
ocorrem no Brasil,
segundo o Ministério
da Saúde
34 • SAÚDE É VITAL • SETEMBRO 2019