atentamente a bateria de exames e a aplica-
ção de soro. Feitos os testes de laboratório
e descartadas possíveis doenças, o veteri-
nário confirmou as suspeitas iniciais: Pink
estava mesmo deprimida.
Mais tarde, o antropólogo descobriria
que esse não era exatamente o diagnósti-
co. Diferentemente da complexa depres-
são humana, o comportamento depressivo
dos animais não configura um transtorno
mental em si. Ele é um nome genérico para
uma estratégia de proteção, uma reação do
corpo a algo que não vai bem. “Quando o
animal fica doente, a depressão é necessá-
ria para deixá-lo mais quieto, menos vulne-
rável. Também é acionada para problemas
que, cognitivamente, ele não consegue re-
solver”, explica o veterinário especialista
em comportamento animal Mauro Lantz-
man, que atua em São Paulo.
Na maior parte do dia, Pink ficava sozinha
no apartamento e saía pouco para passeios
ao ar livre. Os maus hábitos da cuidadora es-
tavam, assim, se refletindo na cadela. Segala
percebeu que os laços entre pessoas e bichos
domésticos eram muito mais profundos do
que julgava, pelo menos do ponto de vista
antropológico. “Nós e os Outros Humanos,
os Animais de Estimação” foi o título de sua
tese de doutorado, defendida em 2012.
Ainda que a depressão animal seja dife-
rente do transtorno que acomete a nossa
espécie, os bichos também podem sofrer de
um distúrbio com sintomas parecidos com
os do nosso quadro depressivo. É a síndro-
me de ansiedade da separação em animais
(Sasa). Ela afeta 17% dos cães, segundo um
estudo da Universidade de Helsinque, na
Finlândia, que analisou 3 824 casos de 192
raças diferentes. Só que, entre os cachorros
de apartamento, a prevalência fica acima
de 55%, acusa uma pesquisa brasileira, da
Universidade Federal Fluminense. A sín-
drome também maltrata gatos, pássaros,
ovelhas, cabras, cavalos e porcos — uma
vasta fauna. E era o que a Pink tinha quan-
do chegou ao consultório naquela sexta. »
SAÚDE É VITAL • SETEMBRO 2019 • 37