As lambidas que viram lesões lembram
muito o nosso hábito ansioso de roer as
unhas. Só que têm consequências mais gra-
ves entre os pets, porque podem abrir alas a
dermatite e infecções. Alguns bichos ficam no
lambe-lambe, outros chegam a se morder... As
veterinárias americanas Valarie Tynes e Leslie
Sinn publicaram um estudo de referência so-
bre os comportamentos repetitivos de cães e
gatos e identificaram que esse tipo de auto-
mutilação estava presente principalmente em
cachorros de porte grande e gatos-de-bengala
— raça criada pelo cruzamento de felinos do-
mésticos e outros selvagens com manchinhas
de leopardo. Atenção à lambedura, portanto.
Ela nem sempre é inofensiva e, não raro, soa
o alarme de uma aflição mental.
Conforme a idade avança, comportamen-
tos inusuais podem indicar outro problema, a
síndrome da disfunção cognitiva (SDC), do-
ença degenerativa semelhante ao Alzheimer
humano. “Os animais podem ter andar er-
rante, sair de casa e não saber como voltar, se
esquecer do tutor, desaprender a fazer suas ne-
cessidades no lugar certo”, ilustra Gisele Fabri-
no, professora de veterinária da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), em Araçatuba. De
acordo com uma pesquisa da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, até 30% dos
gatos entre 11 e 14 anos sofrem da doença.
Nos cães, ela teria a mesma prevalência, mas
parece chegar antes — em média entre os 7 e
os 9 anos, conforme revisão da Universidade
Regional de Blumenau, em Santa Catarina.
Nas duas espécies, a disfunção cognitiva afe-
taria 50% dos animais acima dos 14 anos.
Apesar de não ter cura, a SDC pode ser
tratada para amenizar os sintomas. Estímu-
los mentais e alguns suplementos alimen-
tares parecem ajudar. Mas, como em outras
situações, é fundamental consultar o vete-
rinário para diferenciar um transtorno de
uma esquisitice comportamental resultan-
te de uma dificuldade de adaptação à vida
que demos aos pets. Às vezes, pequenos
ajustes na rotina já trazem mais conforto,
segurança e alívio para eles. −
SAÚDE É VITAL • SETEMBRO 2019 • 41