IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Durante a gestão ministerial Lyra Tavares, o ministro, cuja visão inteligente e evoluída da
fabricação de material bélico era patente, determinou a colheita de uma série de dados com o
objetivo de equacionar o problema para solução adequada à conjuntura brasileira. Nesta
oportunidade verifiquei, pelas informações colhidas, entre outros dados desanimadores, que a idade
de 60% dos operários estava acima de 50 anos.


A tecnologia rudimentar, muito próxima do artesanato, constituía outro óbice, quase
intransponível. Não havia formação de técnicos para as tarefas secundárias, e o Instituto Militar de
Engenharia - primoroso em tudo -, embora tenha o grande mérito do pioneirismo, era, e continua a
ser, relativamente, muito mais útil às engenharia civil e suas empresas, às quais entrega técnicos
capazes, do que propriamente ao Exército. Nossos técnicos militares, por sua incontestável
capacidade profissional, eram constantemente solicitados para cooperar com empresas civis e muitos
vinculavam-se a elas. Na verdade, encontravam no Exército, de modo geral, ambientes de trabalho
burocrático, bem distantes daqueles de atividades técnicas - desenvolvimento de projetos, provas e
experiências - que sonharam, visando a aplicar o que haviam aprendido. Este panorama trazia-lhes
algo de frustração.


O nosso material bélico, sempre negociado nos grandes trustes chegava-nos às mãos por
intermédio de firmas tidas como bem-conceituadas.


O comércio de armas é dos mais rendosos. O armamento aperfeiçoado, moderno, portanto o mais
eficiente e atual, constitui privilégio - em linguagem mais clara, monopólio - das grandes potências.
O material, já em vias de ultrapassagem técnica, oferecido por preços exorbitantes, é comprado sem
especulações, porque quem busca armamento ou está sob forte sensação de ameaça ou tem o
propósito irreversível de empregá-lo.


Os contratos de venda jamais asseguram a entrega, quer nas quantidades quer nos prazos
estipulados. O reajustamento de preços é cláusula inevitável. O comprador não poderá transferir -
por venda, empréstimo, ou doação - o armamento que recebe de outros países. A conjuntura
internacional, a carência de matéria-prima, a inflação etc. surgem como argumentos de base a estas
restrições.


O armamento negociado, com o passar dos anos, torna-se obsoleto, sendo retirado da linha de
produção. Os países compradores, que não dispõem de recursos para acompanhar a evolução técnica
e substituí-lo, entram em fase de angústia. A munição, que a cada remessa fica mais cara, desaparece
do mercado e só a preços de espoliação é novamente fabricada. A substituição de peças deterioradas
pelo uso ou inutilizadas por acidentes, quando não mais existentes nos depósitos, torna-se
impossível.


A instalação de fábricas de armamento portátil, nos países subdesenvolvidos, aproveitando mão-
de-obra barata, facilidades alfandegárias e outras concessões e tolerâncias incentivadoras, processa-
se sempre de forma mui astuciosa para vincular o produto à indústria estrangeira. As peças vitais de
uma arma de repetição, por exemplo, são fabricadas no país concessionário; sem elas não se poderá

Free download pdf