Muito, ainda, poderia dizer sobre o nebuloso setor da aquisição de material bélico, no Brasil,
escrevendo laudas e laudas sem acrescentar nada ao que já foi percebido, de que é um comércio de
chantagens, dominado por insolente máfia. A nossa pluralidade de armas e de viaturas de combate
blindadas só é explicável pela visão errônea que os nossos administradores civis, e mesmo os
militares, têm demonstrado desse problema.
Era este, sem rebuços, o panorama conjuntural da fabricação de material bélico em 1975.
Havia necessidade urgente de uma solução que nos libertasse desta dependência escravizadora,
mesmo que fosse a médio prazo, mas o importante era que saíssemos da atitude estática a que
fôramos conduzidos pelas vacilações e temores de nossa administração.
Em julho de 1974 conversei, demoradamente, com o general Euler Bentes Monteiro, ainda na
chefia do Departamento Geral de Serviços, e disse-lhe de minha intenção de transferi-lo para o
Departamento de Material Bélico, onde desejava se empenhasse na elaboração de proposta ou, mais
precisamente, de um projeto que abrisse novos horizontes à fabricação do material bélico no Brasil.
Pretendia que as nossas fábricas militares integrassem uma nova empresa, servindo-lhe de base para
incentivar a indústria de material bélico no país, quer pela composição com outras empresas quer
pelo seu próprio desenvolvimento, em vista das possibilidades de expansão comercial que
adquiririam. Existia, no entanto, a necessidade de que não fugisse das mãos do Exército o controle
desta indústria. Uma condição era imperativa no êxito do empreendimento - a autorização do governo
para exportação.
Faltava-me, contudo, a aquiescência do Presidente da República para dar forma às idéias,
traduzindo-as em documentos. Obtive-a em audiência normal. S.Excia. compreendeu o alcance do
empreendimento e sentiu a oportunidade do momento. Concordou com a exportação sujeita,
logicamente, a restrições conjunturais, que poderiam ocorrer em relação a certos países. Vi o
assentimento presidencial com extrema satisfação, pois abria-se, para nós, uma promissora era na
indústria bélica, embora os caminhos a percorrer se apresentassem difíceis e marcados, como
realmente aconteceu, por resistências e incompreensões de todas as naturezas.
Aproximadamente um ano levou o Ministério do Exército para chegar a uma proposta definitiva
do projeto que foi transformado na Lei sancionada pelo Pre sidente da República em 14 de julho de
- Nesta árdua caminhada, os entendimento e acertos com os ministros do Planejamento e dos
setores econômicos foram constantes e semanais. Neles houve sempre a destacar o interesse do
general Euler em realizar tarefa que, sem fuga à realidade, se assentasse em sólidas bases.
Foi com indisfarçável júbilo que agradeci ao presidente o sancionar da Lei n° 5.227, de 14 julho
de 1975, que considerei a base da emancipação militar brasileira, no caminho da indústria
bélica,"agrilhoada que está aos interesses dos exportadores estrangeiros".4 Ressaltei, naquela
ocasião, quão delicado e penoso seria o período de transição, de um sistema de produção estagnado
na esfera militar, para o setor de nossa dinâmica indústria civil. Precisávamos vencer o desafio que,
na expressão do Presidente da República, o Ministro do Exército passara a enfrentar. Não me iludi,